Jornalistas apontam educação como forma de combater notícias falsas

Em reunião da CPI, debatedores acusaram o presidente Jair Bolsonaro de disseminar fake news

Em reunião da CPI das Fake News nesta terça-feira (3), cinco jornalistas convidados apontaram a educação e o fortalecimento da democracia como formas de combater a desinformação.

Para o jornalista Arnaldo Cesar Ricci Jacob, representante da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), as fake news confundem a formação da opinião pública e desestabilizam o estado democrático de direito. Ele afirmou que a ABI tem estudado o fenômeno das notícias falsas e considerou que as fake news deixaram de ser amadoras e alertou para o risco do deep fake, quando vídeos são adulterados para a inserção de rostos em uma situação alheia.

Segundo Arnaldo Jacob, a ABI desenvolve ferramentas para captar as informações nocivas que estão na rede. Depois, uma equipe faz a pesquisa para conferir a veracidade da notícia e reinjeta nas redes sociais uma “vacina”, que é um aviso sobre a suspeição de uma informação. “Uma grande questão para a ABI hoje é: como combater fake news em um país em que o grande mandatário produz fake news?”, questionou.

Jacob ainda sugeriu aos Congresso a criação de mecanismos que apoiem e financiem instituições que pesquisam informação digital e podem ajudar a combater a disseminação de notícias falsas.

“A ABI percebeu que é preciso combater as fake news no campo em que elas se manifestam: as redes sociais”,  declarou.

Democracia

O vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) – regional Centro-Oeste, Gésio Passos, ressaltou que a estratégia da desinformação não é nova. Ele apontou, porém, que a ampliação do acesso à internet favoreceu a disseminação das notícias falsas. Ele lamentou a grande concentração das empresas de comunicação e afirmou que o presidente da República é “um dos principais promotores” da desinformação no país.  Segundo levantamento da Fenaj, Jair Bolsonaro realizou 111 ataques à imprensa desde que assumiu a Presidência.

Passos também criticou a desregulamentação da profissão de jornalista, prevista na Medida Provisória 905/19, em análise no Congresso. Para ele, a qualidade profissional do jornalista pode cair e a falta de cuidado ético com a veracidade da notícia pode prosperar. Para ele, a solução para o problema passa pelo fortalecimento da democracia, inclusive nos meios de comunicação.

“A falta de diversidade das mídias compromete o acesso à informação. Assim, a população fica refém da espetacularização da notícia e fica mais fácil a disseminação das fake news”, alertou Passos.

Saúde

Diretora executiva do portal Aos Fatos, a jornalista Tai Nalon disse que o fenômeno da desinformação deve se prolongar e que não existem receitas prontas para vencer essa cultura. Ela apresentou ferramentas tecnológicas site que podem auxiliar o leitor a conferir a veracidade de uma informação. Há, inclusive, uma ferramenta dedicada ao presidente Bolsonaro. Segundo a jornalista, o presidente tem falado, com bastante frequência, frases com informações fora de contexto ou claramente falsas. Ela alertou para o perigo da polarização e para a divulgação de falsas notícias relacionadas à saúde e registrou que o brasileiro se informa hoje, principalmente, pelas redes sociais.

“Desinformação pode fazer mal à saúde e pode gerar histeria coletiva. A checagem importa, o jornalismo profissional importa”, declarou.

Educação

A repórter da Agência Lupa Natália Levien Leal apresentou as principais rotinas de checagem da agência. Ela informou que a Lupa checa cerca de 40 notícias por mês. Na visão de Natália, quanto mais informação, mais transparência e mais poder de decisão. Ela disse que a solução para a questão das fake news passa muito mais pela educação do que pela criminalização. Na mesma linha, o jornalista Thiago Reis, do serviço Fato ou Fake, do Portal G1, informou que 70 jornalistas trabalham hoje no processo de checagem.

“Reforço aqui que a educação é muito importante nessa questão. Acredito que a criminalização pode ser prejudicial para a liberdade de expressão”, disse Reis.

A relatora da comissão, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), cobrou mais responsabilidade das plataformas divulgadoras de notícia. Ela disse que defende a liberdade de imprensa e a privacidade do cidadão. A deputada Luizianne Lins (PT-CE)  afirmou que a disseminação de notícias falsas é uma epidemia mundial. Ela, que é jornalista, apontou que as redações hoje precisam de jornalistas especialistas em checagem de fatos.

O deputado Delegado Éder Mauro (PSD-PA) reclamou do viés político da CPI que, para ele, “tem só um norte, que é o Palácio do Planalto”. Ele também criticou o Facebook, que estaria tirando “páginas de direita” do ar.

Próxima reunião

A reunião foi coordenada pelo senador Angelo Coronel (PSD-BA), presidente da CPI, que tem o deputado Ricardo Barros (PP-PR) como vice-presidente. Coronel anunciou que a próxima reunião da CPI será nesta quarta-feira (4), às 13h, com a presença da deputada Joyce Hasselmann (PSL-SP).

Fonte: Agência Câmara