Plataforma reúne dados sobre educação e trabalho da juventude brasileira

Em São Paulo, a taxa de aprendizado adequado em Matemática no Ensino Médio público é de 5,8%. 21,7% dos jovens de 19 anos não concluíram o Ensino Médio e é de 65% a parcela de professores dessa etapa com formação adequada. Na Paraíba, os números mudam para 3,6%, 47,3% e 64,6%, respectivamente. Já no estado do Mato Grosso são 3,2%, 34,4% e 29,4%.

Esses recortes podem ser facilmente acessados na plataforma Juventude, Educação e Trabalho (JET), ferramenta da Fundação Roberto Marinho (FRM) criada com apoio do Itaú Educação e Trabalho – um dos braços da Fundação Itaú para Educação e Cultura – com o objetivo de reunir indicadores, dados, análises e vídeos sobre as três temáticas divididas por estados, municípios ou em nível nacional. Os temas marcam forte presença na atuação do investimento social privado (ISP), considerando que educação, formação de jovens para o trabalho e cidadania e empreendedorismo correspondem às áreas que mais recebem investimento, de acordo com o Censo GIFE 2018.

Rosalina Soares, gerente de pesquisa e avaliação da FRM – uma das organizações que coordenam a Rede Temática Juventudes do GIFE -, explica que, considerando que um quarto da população brasileira é formado por jovens de 15 a 29 anos – o que equivale a cerca de 47 milhões de pessoas – a Fundação teve a ideia de criar a plataforma como forma de chamar atenção para as inúmeras dificuldades enfrentadas por esse público no acesso a seus direitos essenciais.

De acordo com a especialista, o Brasil se encontra em um momento importante no que se refere à pirâmide etária, o que tem relação direta com emprego, geração de renda e movimentação da economia para apoiar o país em sua recuperação. “Estamos em um momento no qual ainda temos muitos jovens no país. Mas, daqui a alguns anos, em torno de 2047, essa curva demográfica será alterada e teremos um país com mais idosos do que jovens, o que significa que a força de trabalho vai diminuir. Portanto, precisamos de fato qualificar os jovens enquanto ainda temos um quarto da população nessa faixa, para que eles consigam ter uma inserção digna na sociedade. Garantindo isso, que é um direito, a produtividade do país pode melhorar”, defende Rosalina.

Para além de considerar os benefícios que a garantia de direitos dos jovens poderia trazer ao país, trata-se, em muitos casos, de uma questão de vida ou morte. Rosalina reforça que, há anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que o Brasil vive um nível epidêmico de violência contra jovens, principalmente de meninos e meninas negras/os. Dessa forma, o investimento em educação, por exemplo, área que apresenta extensos e complexos desafios no Brasil, poderia ser um dos caminhos para retirar milhões de jovens da situação de vulnerabilidade social e ampliar suas oportunidades.

A plataforma destina-se a todas as pessoas que tenham interesse em conhecer a realidade de jovens brasileiros em diferentes territórios do país, desde professores, profissionais do terceiro setor, jornalistas, formuladores de políticas públicas e sociedade em geral.

Impacto dos dados

A iniciativa tem como mote “conhecer para não deixar ninguém para trás”, o que remete ao fato de que o conhecimento, estudo e compreensão das inúmeras, distintas e complexas realidades de cada localidade brasileira podem ajudar na construção de políticas públicas e soluções para endereçar os principais desafios quando o assunto é juventude, educação e trabalho.

“Pensamos que esse conjunto de dados dispersos em várias fontes poderia ser transformado em informação para que todos pudessem ter um diagnóstico e compreender quais direitos a sociedade brasileira está conseguindo garantir e qual é o impacto em relação à inserção do jovem no mundo do trabalho quando ele não tem um direito como a educação de qualidade garantido. Toda transformação social começa pelo diagnóstico, o que implica em conhecimento, fundamental para mostrar a realidade.”

Os dados reunidos na plataforma vêm de diferentes fontes, como Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP), edições de censos escolares, Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), bases de dados do Ministério da Economia e da Saúde e Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD).

Navegação

A navegação na plataforma pode acontecer a partir de um filtro inicial com a opção de visualizar dados de todo o Brasil, de cada estado da federação ou de um município. O primeiro resultado mostra dados mais gerais sobre os desafios educacionais, econômicos e sociais enfrentados por crianças e jovens no território selecionado, como a porcentagem de jovens entre 15 e 17 anos fora da escola, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do local, a taxa de jovens entre 18 e 24 anos que não trabalham e não estudam, a taxa de homicídios de pessoas entre 15 e 29 anos por 100 mil habitantes, entre outros.

Ainda é possível navegar por educação, juventude e trabalho ou vulnerabilidades. Dentro de cada opção, há um conjunto de indicadores. Em educação, por exemplo, é possível passear por acesso à escola, Ideb, aprendizado adequado, rendimento escolar, distorção idade-série e docentes. Em juventude e trabalho, existem as opções relação trabalho-estudo, juventude fora da escola e aprendizados. Por fim, a sessão vulnerabilidades permite navegar por violência e gravidez na adolescência.

Ao selecionar, por exemplo, indicadores sobre os docentes de Pernambuco, é possível aprender que, em 2019, o indicador do estado era menor do que o do país e o da região para todas as etapas de ensino, exceto para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Ensino Fundamental. O texto explicativo, que acompanha todos os indicadores nas três temáticas, conta ainda que a formação dos docentes está distante da meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece que todos os professores da Educação Básica tenham formação adequada até 2024.

Nesse caso específico da educação, é possível também aplicar filtros de acordo com as redes de ensino (pública, municipal, estadual, federal ou privada), a modalidade (regular ou EJA) e a etapa de ensino (Ensino Fundamental – anos iniciais ou finais – e Ensino Médio).

Além da disponibilização dos dados, a Fundação Roberto Marinho também preparou relatórios específicos para cada estado, com análises que ajudam na compreensão dos indicadores, além de um documento sobre a situação em nível federal, explicando os principais desafios da juventude no Brasil. Ainda, em cada filtragem, podem ser visualizados arquivos, vídeos e conteúdos em áudio e texto produzidos pelo Canal Futura sobre o tema em questão.

Eleições e Covid

Rosalina explica que a população, empoderada de informações, pode cobrar o comprometimento dos prefeitos e prefeitas eleitos/as junto à pauta das juventudes.

“A nossa expectativa é que essa plataforma tenha utilidade para criar uma consciência de que existem direitos que não estão chegando em muitos jovens e que isso impacta no desenvolvimento social e econômico do país, além de trazer desafios para os gastos públicos na tentativa de resolver os problemas tardiamente. A plataforma favorece que todos os cidadãos possam conhecer os desafios daquele território e exigir que as questões sejam resolvidas da forma correta, que é não deixando nenhum jovem para trás”, defende.

A ferramenta não é um produto finalizado, uma vez que mais dados serão adicionados para que as informações estejam sempre atualizadas. Rosalina comenta que algumas informações coletadas durante a pandemia de Covid-19 já foram inseridas, possibilitando a compreensão, por exemplo, da situação de jovens cujas famílias perderam parte de sua renda nesse período.

“Na região Norte, por exemplo, os dados mostram que praticamente 50% dos adolescentes no Ensino Médio estavam sem acesso às atividades escolares. Essa realidade deve ser considerada no projeto de retomada, pois esses jovens precisam de uma atenção especial quando a escola retomar as aulas presenciais”, ressalta a especialista.

Fonte e foto: GIFE