Tempo de titulação será critério das categorias Estímulo e Trajetória; nova categoria Incentivo é voltada a jovens de 15 a 29 anos participantes do Programa Asas para o Futuro, do Ministério das Mulheres
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lançou, nesta quarta-feira (8), o edital do 2º Prêmio Mulheres e Ciência, que reconhece pesquisadoras e instituições que se destacam pela excelência científica, pelo impacto de suas trajetórias e pelo compromisso com a diversidade no ambiente acadêmico. Acesse a página do prêmio e confira o edital.
As inscrições estarão abertas de 9 de outubro a 24 de novembro de 2025, e deverão ser realizadas exclusivamente através do site do CNPq. A cerimônia de premiação das vencedoras está prevista para março de 2026, em Brasília.
A principal novidade deste ano é a categoria Incentivo, voltada a jovens de 15 a 29 anos participantes do Programa Asas para o Futuro, do Ministério das Mulheres. A nova categoria busca inspirar meninas a seguir carreiras nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM), valorizando a transformação pessoal e social promovida pela educação científica.
Promovido em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Ministério das Mulheres, o British Council no Brasil e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), o prêmio Mulheres e Ciência reforça o compromisso do CNPq com a promoção da equidade de gênero, étnica e racial na ciência, tecnologia e inovação.
“O CNPq aderiu à agenda de equidade gênero, e ela tem nos provocado bastante. Este prêmio, assim como outras ações nossa, tem o objetivo de promover não a concorrência entre mulheres, mas sim de estimular a equidade e dar visibilidade à participação das mulheres na ciência. No fundo, fazemos esse prêmio para que, no futuro, não mais sejam necessários prêmios como esse”, afirmou a diretora de Cooperação Institucional, Internacional e Inovação do CNPq, Dalila Andrade Oliveira, que elencou outras iniciativas do CNPq, como, por exemplo, o quantitativo de mulheres em projetos como critério de desempate e bônus para instituições que desenvolvam políticas de equidade em editais importantes do CNPq.
“Esta iniciativa é muito importante. Sempre repito: não somente é uma questão de promover visibilidade, mas de justiça em relação à contribuição efetiva das mulheres para a ciência brasileira e internacional”, afirmou o presidente do CNPq, Ricardo Galvão, citando contribuições de cientistas mulheres para as ciências agrárias, citando o exemplo histórico de Johanna Döbereiner (1924-2000) e, mais recentemente, o da pesquisadora da Embrapa Mariângela Hungria, premiada na primeira edição do Mulheres e Ciência e que, meses depois, seria anunciada como vencedora do Prêmio Mundial da Alimentação (World Food Prize), considerado o “Nobel da Agricultura”.
Veja fotos e assista ao evento de lançamento da segunda edição do prêmio:
Novos critérios
Outra mudança significativa em relação à edição anterior é o novo critério de elegibilidade para as categorias Estímulo e Trajetória.
Na primeira edição, a divisão entre as categorias era feita por faixa etária — até 45 anos para Estímulo e a partir de 46 anos para Trajetória. Nesta nova edição, o tempo de titulação em doutorado passa a ser o critério de referência:
- Estímulo: destinada a pesquisadoras que concluíram o doutorado a partir de 2010, reconhecendo talentos emergentes com até 15 anos de titulação;
- Trajetória: voltada a cientistas que concluíram o doutorado até 2009, em reconhecimento a suas contribuições consolidadas para o avanço da ciência e a formação de novas gerações de pesquisadoras.
Com a mudança, o Prêmio passa a valorizar a maturidade acadêmica e científica das participantes, fortalecendo o reconhecimento por trajetória profissional e o impacto da produção científica.
Quatro categorias e novas oportunidades
Além das categorias Incentivo, Estímulo e Trajetória, o prêmio contempla também a categoria Mérito Institucional, destinada a instituições de ensino superior e pesquisa que desenvolvem e implementam planos de ação para a promoção da igualdade de gênero.
Cada categoria contemplará vencedoras nas três grandes áreas do conhecimento: Ciências da Vida; Ciências Exatas, da Terra e Engenharias; e Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes.
“Esse é um prêmio também para as instituições. É muito importante valorizar instituições que promovam não apenas ações de equidade de gênero para alunas e professoras, mas também que contemplem toda a infraestrutura das universidades”, afirma a secretária de Políticas e Programas Estratégicos do MCTI, Andréa Latgé.
“Esta iniciativa representa o compromisso compartilhado com a equidade de gênero na ciência, e também o poder da parceria”, afirmou o CEO do British Council, Scott McDonald. Representando o CAF, Tatiana Carvalho reafirmou a parceria com o CNPq na continuidade da realização do prêmio. “O sucesso da primeira edição mostra que investir nesse prêmio é investir em reconhecimento, desenvolvimento e futuro. É mais que ação de fomento, é um gesto político, ético e civilizatório.”
A secretária nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados, Rosane da Silva, recordou o compromisso do com políticas públicas que coloquem mulheres “no centro”. “Vivemos em uma sociedade que ainda é machista e patriarcal, que nos coloca como cuidadoras de tudo e de todos. Quando chegamos em espaços públicos, trazemos junto todo o acúmulo da divisão sexual do trabalho, o chamado ‘trabalho de cuidado'”, afirmou, sublinhando a persistência da desigualdade de remuneração e reconhecimento que as mulheres sofrem, mesmo sendo a maioria das chefes de família do país.
Premiações
As agraciadas e instituições premiadas receberão valores em dinheiro, passagens aéreas, certificados e troféus, além de oportunidades de capacitação e intercâmbio científico:
- Incentivo: R$ 5 mil, passagem aérea e hospedagem para a cerimônia em Brasília;
- Estímulo: R$ 20 mil, passagem aérea e hospedagem para a cerimônia em Brasília, passagem e até seis diárias para participação em congresso científico no Brasil ou no exterior;
- Trajetória: R$ 40 mil, passagem aérea e hospedagem para a cerimônia em Brasília e missão ao Reino Unido para troca de experiências e discussão de políticas em ciência e educação superior; e
- Mérito Institucional: R$ 50 mil para o desenvolvimento de ações de equidade de gênero, passagem aérea e hospedagem para a cerimônia em Brasília e uma imersão de capacitação promovida pelo British Council.
Compromisso histórico com a equidade de gênero
O Prêmio Mulheres e Ciência é parte de uma trajetória iniciada pelo Programa Mulher e Ciência (PMC), criado em 2005 pelo CNPq em parceria com outros ministérios e instituições. Desde então, o programa tem promovido ações de incentivo à pesquisa sobre gênero e feminismos, à participação de mulheres em áreas STEM e à implementação de políticas de igualdade no sistema científico nacional.
Entre os avanços alcançados estão a prorrogação de bolsas por motivo de maternidade, a inclusão da licença parental no Currículo Lattes e chamadas públicas temáticas com investimentos superiores a R$ 100 milhões voltados à equidade de gênero.
Valorização e inspiração
A primeira edição do Prêmio, realizada em 2024, recebeu 1.134 inscrições, destacando pesquisadoras e instituições que vêm transformando a ciência brasileira com inovação, compromisso social e perspectiva de gênero.
Com a inclusão da categoria Incentivo e a reformulação das categorias Estímulo e Trajetória, a segunda edição amplia o alcance do reconhecimento, fortalecendo a presença feminina em todas as etapas da carreira científica.
Mais do que uma celebração de conquistas individuais, o Prêmio Mulheres e Ciência reafirma a importância da diversidade e da equidade como pilares para o avanço do conhecimento e da inovação no Brasil.