ARTIGO – Como ir bem no ENEM: além de saber, saber resolver

Ronaldo Mota*

Este ano o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM completa dezoito anos. A maioridade não lhe confere perenidade de forma, ao contrário, há ventos de novas mudanças, as quais são compreensíveis, dado que o exame sofreu alterações essenciais. Nasceu com a finalidade de medir a qualidade do ensino médio, no entanto, a partir do final da década passada, se transformou quase que exclusivamente em teste nacional de admissão ao ensino superior.

O resultado é que hoje o exame abrange anualmente um público de quase oito milhões de candidatos, com interesses concentrados nas mais de 250 mil vagas das universidades públicas e de milhões de outras oportunidades de ingresso no ensino privado. O ingresso na faculdade não é a finalidade única do ensino médio, porém, na ausência de uma base nacional comum curricular, o conteúdo do ENEM findou por se tornar a referência quase única do que é, ou deveria ser, ensinado naquele nível.

O ENEM, progressivamente, adotou uma cobrança cada vez maior de profundidade no domínio de matérias como matemática, física, química, biologia, língua estrangeira, história, geografia e redação. Mesmo assim, o nível de aprendizado em matemática no ensino médio na última avaliação do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB atestou retrocesso naquilo que já ia mal. A ênfase do ENEM tem sido mensurar domínio de conteúdo, capacidade de memória e habilidade de responder questões no tempo previsto, funcionando como atestado formal em itens supostos essenciais a ingressantes em cursos superiores. O drama adicional é que tais elementos estão muito associados à formação típica esperada no século passado, onde um conjunto razoavelmente delimitado de conteúdos, técnicas e procedimentos caracterizavam um profissional de ensino superior preparado para atender as demandas da época. Isso mudou, está mudando e mudará ainda muito mais. Caminhamos rapidamente para um novo cenário onde mais relevante do que o que foi aprendido é o desenvolvimento da capacidade de aprender a aprender, com o consequente aumento da consciência do educando sobre como ele aprende.

O mundo contemporâneo apresenta novidades e desafios resultantes do ingresso acelerado em uma sociedade onde a informação está, cada vez mais, totalmente disponibilizada e instantaneamente acessível. Assim, simplesmente separar os candidatos entre os que sabem e os que não sabem determinados conteúdos torna-se menos relevante do que, simultaneamente, selecionar e induzir talentos aptos a saberem resolver problemas. Saber resolver tem a ver com saber, mas vai além, significando fazer uso das informações disponíveis para apresentar soluções a desafios.

A capacidade de interpretar e analisar textos, fazendo uso dos dados disponibilizados, o uso da lógica e do raciocínio crítico e o desenvolvimento de um conjunto de atributos que transcendem o domínio simples de conteúdos ajudarão o candidato a ir bem no ENEM. A resposta a uma questão depende não só de memória e do domínio de conteúdos, mas inclui também capacidade de foco e outras atitudes. Ou seja, estamos medindo, ainda que indiretamente, o nível de amadurecimento da consciência adquirida pelo educando acerca dos mecanismos segundo os quais ele aprende, o quanto ele conhece a si mesmo e faz uso disso. Neste sentido, felizmente, aprendizagem inclui também a habilidade de aprender a aprender em um contexto de educação permanente ao longo da vida.

Mesmo que o ENEM, como ele é hoje, vise a, principalmente, selecionar e distinguir entre os que sabem e os que não sabem, há espaços a serem explorados por aqueles que, mais do que saber, se preocupem em saber resolver. Irão bem no ENEM aqueles capazes de explorar as atitudes maduras perante os desafios,o que será fundamental durante o exame e, especialmente, depois dele.

*Reitor da Universidade Estácio de Sá

Comunicação CRUB
(61) 3349-9010