Em educação, é normal ser diferente

*Ronaldo Mota

Cada um aprende diferentemente, mesmo assim temos insistido em ensinar a todos uniformemente. Difícil dar certo. Hoje, as tecnologias digitais permitem enfrentar tal desafio construindo plataformas customizadas que entendem o educando e adaptam os passos do processo ensino-aprendizagem a cada etapa. Esses são os elementos básicos daquilo que chamamos de aprendizagem adaptativa ou personalizada.

A massificação oculta o fato de que cada um de nós tem seu próprio ritmo de aprendizagem e a mais adequada abordagem. Não há correlação simples entre rapidez com inteligência, talento ou capacidade de aprendizagem. Todos podemos aprender e estamos constantemente aprendendo, mas cada um o faz dentro de suas particularidades, peculiaridades e interesses próprios. Cabe à educação estar preparada para esta respeitável e rica diversidade, contribuindo efetivamente com pessoas e contextos distintos.

Especificamente no mundo das tecnologias digitais, o respeito à individualidade do estudante pode decorrer da percepção sofisticada que uma plataforma educacional tem das respostas que o mesmo apresenta frente a um conjunto de experiências por ele vivenciadas. Assim, ao contrário de simplesmente acertar ou errar questões, todas as atividades permitem ao sistema conhecer melhor o aluno e seu contexto. Um sistema de inteligência artificial, desenvolvido coletivamente por educadores e colaboradores, permite alimentar um banco de dados fazendo uso de inteligência artificial que mapeia permanentemente onde o estudante se encontra, quais são suas principais fragilidades e seus predicados, gerando trajetórias de aprendizagem e planos de estudos compatíveis. Em tese, podemos ir tão fundo quanto mais dados relevantes tivermos disponíveis e quanto mais “inteligente” for a plataforma.

Ao contrário do erroneamente suposto, produzir uma plataforma inteligente é menos uma questão tecnológica (embora seja também) e muito mais um atributo educacional que demanda educadores sensíveis, conhecedores profundos do tema objeto e, especialmente, decifradores das “almas” dos educandos em questão. Ou seja, em oposição a um sistema frio máquina-homem, é uma complexa percepção dos aspectos educacionais associados que permite ao sistema ser mais efetivo. Os permanentes ajustes que as trajetórias de aprendizagem percorrem são sintomas evidentes de uma vivacidade embutida, expressa por algoritmos subjacentes que foram construídos por humanos, para humanos e por eles próprios permanentemente aprimorados

Lembraremos, sem saudades, de um tempo em que supúnhamos que todos os alunos fossem iguais. Uma sociedade caracterizada pela informação amplamente acessível, disponibilizada de forma instantânea e gratuita, há que tentar construir uma educação que seja compatível com estes novos tempos e que explore nos educandos e nos seus contextos as características específicas. Assim, a parte mais difícil e desejável, ainda que não resolvida, é que os Educandos, por terem respeitadas suas individualidades, desenvolvam o mesmo respeito aos demais, que saibam entender os outros e que reconheçam a importância da necessidade de uma relação mais harmônica e respeitosa entre todos e do coletivo com a natureza ao seu redor. Definitivamente, educar não ficou mais simples, ficou bem mais complexo.

*Reitor da Universidade Estácio de Sá, Diretor Executivo de Educação a Distância da Estácio e membro da diretoria do CRUB

Comunicação CRUB
(61) 3349-9010