Miriam Hubinger, professora da Unicamp, está entre os cientistas mais influentes do mundo

Para a professora, estar na lista é um importante reconhecimento pela dedicação à pesquisa e à formação de alunos

A professora da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, Miriam Dupas Hubinger, foi considerada, pelo segundo ano consecutivo, uma das cientistas mais influentes do mundo. A classificação foi divulgada na lista Highly Cited Researchers, da empresa de consultoria britânica Clarivate Analytics, cujo estudo se baseia no número de citações aos trabalhos dos pesquisadores. Ao todo, o Brasil aparece com 15 nomes na publicação.

“É o segundo ano que estou na lista e é um reconhecimento pela dedicação à pesquisa, à formação de alunos. É importante como cientista, nunca imaginei estar ali”, afirma Miriam, para quem a universidade pública, em especial a Unicamp, possui uma centralidade em sua vida. “Eu fiz escola pública desde pequenininha e se não tivesse feito uma universidade pública eu provavelmente não conseguiria fazer uma graduação”, afirma.

Miriam é professora na Unicamp desde a década de 1980 e conta que os seus trabalhos passaram a ser mais citados quando começou a se dedicar a uma frente de pesquisa que leva em conta quais são as degradações sofridas pelos alimentos durante o processamento para, assim, evitá-las. O seu artigo mais citado refere-se a um trabalho publicado em 2008, no qual ela, junto à pesquisadora Catherine Brabet e à então orientanda Renata Tonon, que também está na lista e hoje é pesquisadora na Embrapa, estudaram como processar o açaí em pó.

“Na época, estudamos o processo, como afetava a qualidade do produto, como esse produto se conservava ou se comportava durante estocagem. É um processo que não havia sido aplicado ainda para o açaí e nós tentamos fazer com que se preservassem as características originais do alimento”, explica.

As pesquisas sobre filmes e coberturas comestíveis e a encapsulação de óleo de linhaça preservando os ômegas 3 e  6 também são amplamente referenciadas. Atualmente, a principal frente de atuação de Miriam é nos processos de microencapsulação relacionados a lipídios estruturados.

Trajetória de desafios e reconhecimento

Miriam Dupas

Avaliando trajetória acadêmica, Miriam aponta que o principal desafio, hoje, é em relação às verbas para pesquisa

Dos 15 cientistas brasileiros elencados pela Clarivate, apenas quatro são mulheres, fato que faz Miriam lembrar das barreiras impostas às pesquisadoras na vida profissional. “De fato é mais difícil, tem a maternidade, tem o machismo da academia”, analisa a professora, que conta ter sofrido algumas injustiças ao longo de sua trajetória, como o desfavorecimento em uma promoção de nível por um órgão de fomento de bolsas, mesmo tendo estudos de maior impacto internacional do que os candidatos homens.

“Eles achavam que a produção do rapaz era melhor que a minha. Eu argumentei com número e eles reavaliaram, mas se eu tivesse ficado quieta provavelmente nada iria acontecer”, frisa ela, que vê muitas melhoras nas questões de discriminação por gênero em relação à época em que começou a trajetória acadêmica na Unicamp. Na sua graduação, iniciada em 1975, por exemplo, cerca de 80% da sua turma era masculina. “Hoje nós temos muitas alunas mulheres, elas se colocam bem no mercado, mas na hora que aparece uma gravidez, por exemplo, não sei bem como esse mercado reage”.

Os principais desafios atualmente, para a docente, já não são mais relacionadas ao fato de ser mulher, conciliando jornadas, mas sim à questão das verbas para a ciência e educação. “Hoje o que a gente tem é o desafio das verbas. Se tem uma série de ataques que está deixando todo mundo pessimista e desanimado. É uma pena a agressão que nós estamos sofrendo”. Posicionar-se sempre que possível, assim, é visto como essencial para a professora que, além do reconhecimento na lista do Clarivate Analytics, já recebeu prêmios como o Prêmio Samuel Benchimol para o desenvolvimento da Amazônia 2008 e 2009, prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia de Alimentos em 2009, Prêmio de Reconhecimento Acadêmico Zeferino Vaz da Unicamp em 2014 e Prêmio Inventores INOVA 2017.

Fonte: Unicamp