O ranking das universidades

11 de dezembro de 2013

 

 

O Estado de S.Paulo

 

 

Não é apenas o ensino básico brasileiro que vem se saindo muito mal nas avaliações comparativas com os sistemas educacionais de outros países realizadas por organismos multilaterais. O mesmo ocorre com o ensino superior.

 

 

No levantamento da Times Higher Education sobre a qualidade das universidades dos Brics e países emergentes, divulgado esta semana, quatro instituições brasileiras foram classificadas entre as cem melhores. Nenhuma delas, contudo, ficou no topo da lista. Há dois meses, a Times Higher Education havia divulgado um estudo mostrando que o Brasil não teve nenhuma universidade incluída na lista das 200 melhores do mundo, em 2013. A instituição brasileira melhor classificada, a USP, em 158.º lugar no ranking de 2011, despencou para a faixa entre o 226.º e o 250.º lugares, este ano.

 

 

Os estudos comparativos da Times Higher Education avaliam o desempenho dos estudantes, o nível de internacionalização de cada universidade e sua produção acadêmica nas áreas de engenharia, tecnologia, artes, humanidades, ciências da vida, saúde, física e ciências sociais. Também levam em conta a relevância das pesquisas acadêmicas, a regularidade da publicação de artigos nas revistas científicas mais conceituadas e o número de vezes que são citados. E medem, ainda, o nível de absorção, pelas empresas, das ideias e das tecnologias inovadoras desenvolvidas pelas universidades.

 

 

No ranking das instituições de ensino superior dos Brics e dos países emergentes, as universidades asiáticas alcançaram o mesmo destaque que suas escolas de ensino básico obtiveram na edição de 2012 do Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa). Só a China classificou 23 universidades – 4 delas entre as 10 melhores. A Turquia classificou 3 universidades no topo da lista. A USP ficou na 11.ª posição, abaixo de instituições da China, da Turquia, de Taiwan, da Rússia e da África do Sul. A segunda universidade brasileira melhor classificada foi a Unicamp, em 24.º lugar. Em seguida vêm a UFRJ e a Unesp, em 60.º e 87.º lugares, respectivamente.

 

 

O péssimo desempenho das universidades brasileiras nas avaliações internacionais causa preocupação entre os especialistas em ensino superior. Professor da Unicamp, com doutorado na Universidade de Tel-Aviv e pós-doutorado em universidades francesas, o físico Leandro Russovski Tessler classificou como “trágicas” as colocações das universidades brasileiras no ranking da Times Higher Education. Os coordenadores da pesquisa disseram que nossas universidades tiveram um desempenho “decepcionante” e afirmaram que “o ensino superior do Brasil não condiz com o tamanho de sua economia”.

 

 

Entre os principais problemas das universidades brasileiras, destacam-se a falta de recursos financeiros e humanos para pesquisa, falta de infraestrutura, falta de intercâmbio, baixo número de publicações em revistas internacionais e desconhecimento de idiomas estrangeiros. Em outras palavras, o problema está na forma como o governo vem gerindo o ensino superior, revelando-se incapaz de planejar e de estabelecer prioridades. Enquanto China, Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan há muito tempo investem em qualificação de docentes e centros de excelência, intercâmbio cultural e internacionalização de suas universidades, o Brasil desperdiça recursos escassos com a criação de novas instituições sem, no entanto, assegurar boas condições de funcionamento para as instituições já existentes. Na última década, o País também aumentou gastos no setor sem estabelecer metas de produtividade e sem atribuir funções específicas para cada uma das universidades públicas.

 

 

Por coincidência, o estudo da Times Higher Education foi divulgado no mesmo dia em que, ao receber o título de doutor honoris causa de uma das universidades abertas em seu governo, Lula mostrou como geriu a área de educação. “Proibimos discutir educação como gasto”, disse ele, sem dedicar nenhuma palavra ao problema da má qualidade de gestão e planejamento.