Organizações da sociedade civil global se reúnem na capital pernambucana para discutir estratégias de incidência no G20

Entre os dias 26 e 28 de março, organizações de todas as regiões do mundo, representando 2.100 organizações de mais de 60 países que compõem o Civil 20 (C20) estarão reunidas em Recife para discutir suas estratégias de incidência no G20, que este ano acontece sob a presidência do governo brasileiro.

O C20 é o grupo de engajamento da sociedade civil que foi formalizado em 2013, durante o G20 na Rússia e em 2024 vai atuar sob a coordenação da da ONG pernambucana Gestos, Soropositividade, Comunicação e Gênero que desempenha a função de sherpa, e da Abong – Associação Brasileira de ONGs que tem a sua presidência. Os sherpas são uma etnia que vive na região montanhosa do Nepal e que guiam alpinistas até o Monte Everest. No âmbito do G20, portanto, sherpas são responsáveis por articular o diálogo político entre as organizações da sociedade civil e as representações dos governos.

Com a sherpa sediada no Recife, a cidade torna-se a capital do C20, e recebendo este encontro que definirá as estratégias do grupo de engajamento. “Queríamos muito realizar o Inception Meeting [reunião inicial] do C20 em Recife, pois aqui é a nossa base, é daqui que falamos para  e com o mundo e, além de nosso território de ação direta com as pessoas e comunidades que cuidamos há 30 anos,  é importante visibilizar o Recife, umas das cidades mais vulneráveis às mudanças climáticas no circuito do G20, que chega ao Brasil neste momento em que mundo enfrenta uma tripla crise planetária, ou seja, perda de biodiversidade, emergência climática e econômica.  Nossa responsabilidade, portanto, é imensa, pois temos acompanhado o G20 desde 2011 e a sociedade civil tem desempenhado um papel central nas discussões sobre cooperação econômica internacional e financiamento para o desenvolvimento sustentável. Nosso papel é, além de dialogar e construir pontes com os governos do G20, articular com os diversos grupos de engajamento e trazer para as discussões do C20 Brasil, o acúmulo dos anos anteriores e, ao final deste mandato, realizar uma boa transição para a coordenação sul-africana do C20 em 2025.”, diz Alessandra Nilo, sherpa do C20 e coordenadora geral da Gestos.

Henrique Frota, presidente do C20 e diretor da Abong, salienta que este encontro é um momento chave das rodadas anuais. “O Inception Meeting cumpre dois objetivos pois, além de ser um primeiro debate público do C20 e dar o tom do que serão as prioridades da sociedade civil neste ano, ele vai também reunir presencialmente os e as co-facilitadores/as dos nossos 10 grupos de trabalho, e o Comitê Internacional, nos permitindo realizar nosso planejamento estratégico até novembro, quando ocorre a cúpula de líderes aqui no Brasil.”, complementa.

Articulação entre os Grupos de Engajamento do G20 – Este ano, o governo brasileiro construiu um processo de diálogo articulado entre os 13 grupos de engajamento, para que formalmente apresentem suas recomendações, em julho de 2024, aos governos do G20.

Historicamente a sociedade civil, particularmente do Sul global, tem pautado e insistido na necessidade de uma transição energética justa, acessível e inclusiva para o desenvolvimento sustentável e para uma nova dinâmica da cooperação internacional. As organizações que atuam na defesa de direitos e bens comuns têm sido a voz mais ativa contra a ideia hegemônica de que os mercados desregulados seriam a solução para garantir os recursos necessários a essa transição. Além disso, insiste sobre o “direito ao desenvolvimento”, ao mesmo tempo em que questiona a situação neocolonial das nações endividadas, com o Sul global preso em armadilhas e condicionalidades impostas pelo Norte.

“Esperamos que, sob a presidência do Brasil, encontremos mais comprometimento para implementar os acordos assinados nas instâncias multilaterais nas últimas décadas. Acreditamos que uma contribuição única da presidência brasileira do G20 é dar complexidade a questões como a necessidade de se construir um novo arcabouço econômico global que seja justo, igualitário, que enfrente as desigualdades e seja antirracista. Acreditamos que o governo brasileiro está comprometido com essa agenda”, afirma Henrique Frota.

 

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O que é o C20?

O C20 é um dos Grupos de Engajamento oficiais do G20. Desde que foi oficializado em 2013, tem se fortalecido a cada ano, garantindo que as lideranças mundiais escutem as recomendações e demandas da sociedade civil organizada sobre promoção dos direitos ambientais, sociais e econômicos de forma sustentável, como previsto na Agenda 2030      com o princípio de não deixar ninguém para trás. Como parte do processo do G20, o C20 desempenha várias funções que incluem fornecer conhecimento especializado e responsabilizar os governos por seus compromissos; buscar resultados positivos para a sociedade como um todo; e promover meios financeiros eficazes e alocação de recursos para alcançar esses resultados.

 

Grupos de trabalho

Os GT que integram o C20 em 2024 são: 1) Economias justas, inclusivas e antirracistas; 2) Sistemas alimentares, fome e pobreza; 3) Meio ambiente, justiça climática e transição energética justa; 4) Comunidades sustentáveis e resilientes e redução do risco de desastre; 5) Saúde integrada para todas e todos; 6) Educação e cultura; 7) Digitalização e tecnologia; 8) Direitos da mulher e igualdade de gênero; 9) Filantropia e desenvolvimento sustentável; e 10) ODS 16: Governança democrática, espaço cívico, combate à corrupção e acesso à justiça.

 

 

Serviço:

Reuniões dos GTs

Data: 26 a 28 de março de 2024

Local: Transamerica Prestige Recife (Av. Boa Viagem, 420, Recife-PE)

Transmissão online do dia 26/03 – https://www.youtube.com/c/GestosComunica%C3%A7%C3%A3o

https://www.youtube.com/@prefrecife

Inception Meeting Program