Paleontólogo reconstitui cérebros de animais extintos

Pernambucano radicado no Rio Grande do Sul, José Darival Ferreira trabalha com roedores, cervos e até dinossauros

José Darival Ferreira é pernambucano, mas vive em São João do Polesine, no Rio Grande do Sul, onde cursa seu doutorado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Em seu trabalho, ele reconstitui cérebros de animais extintos, como o de um dinossauro que viveu há 233 milhões de anos.

Fale um pouco sobre a sua formação.
Sou formado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (Ufrpe), na Unidade Acadêmica de Serra Talhada. Lá, comecei a estudar paleontologia com pequenos vertebrados no Parque Nacional do Catimbau, um dos sítios arqueológicos mais importantes de Pernambuco. Esse começo despertou o meu interesse em busca de revelar os segredos que os fósseis poderiam dizer sobre os ambientes e as relações ecológicas do passado.

Em 2012, passei na seleção de mestrado em Geociências, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde fui bolsista da CAPES. Desenvolvi uma pesquisa com gliptodontes, grandes encouraçados terrestres do Pleistoceno (época situada em um período entre 2,5 milhões e 11,7 mil anos atrás) que eram parentes distantes dos tatus.

Em 2018 fui selecionado para o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. Esta possui um dos mais importantes centros paleontológicos do Brasil: o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontólogica da Quarta Colônia– CAPPA/UFSM, localizado no município de São João do Polesine.

Estou no terceiro ano do doutorado como bolsista da CAPES. Até o momento, o trabalho resultou em alguns artigos entre autorias e coautorias publicados em revistas internacionais na área de paleoneurologia, incluindo a reconstrução de cérebros de roedores, cervos e, mais recentemente, de um dos dinossauros mais antigos do mundo. Esses trabalhos repercutiram em todo mundo, com entrevistas publicadas na NatureThe New York Times e Daily Mail. O foco da minha tese é a reconstrução de cérebros de roedores extintos da América do Sul, a análise macro evolutiva do tamanho desses encéfalos e as implicações para a evolução.

Como surgiu o interesse pela atividade de reconstruir cérebros de animais extintos?
Em uma conversa casual com o meu orientador, Leonardo Kerber, em 2017. Falávamos sobre muitos artigos que estavam sendo publicados por pesquisadores fora do Brasil, sobre a metodologia de reconstrução virtual da cavidade craniana preenchida pelo cérebro e as implicações dessas descobertas. Percebemos que havia poucos laboratórios no Brasil que trabalhavam com a reconstrução de cérebros de fósseis de maneira virtual.

O CAPPA – UFSM já possuía toda a infraestrutura computacional e disponibilidade de fósseis que seriam necessários para se realizar trabalhos de alta qualidade na área, similar aos que já estavam sendo produzidos fora do País. Assim, decidi prestar seleção para o doutorado no Programa de Biodiversidade Animal da UFSM, com o projeto de reconstrução tridimensional da cavidade craniana de roedores extintos e viventes. Depois de uma extensa revisão bibliográfica sobre metodologias computacionais e neuroanatomia, ramos que eram uma novidade para todos nós, os primeiros resultados já foram publicados internacionalmente e com repercussão mundial.

Qual o impacto da reconstrução do cérebro de um dinossauro de 233 milhões de anos para pesquisas na sua área?
A reconstrução completa do cérebro serve para mostrar que o Brasil é possuidor de um rico patrimônio fossilífero, que inclui os dinossauros mais antigos do mundo e com grau de preservação excepcional. Esse patrimônio, associado a tecnologias, nos permitiu chegar a esse ponto da pesquisa. Em termos internacionais, é importante destacar que este é o primeiro e único encéfalo completo de um dinossauro desta idade, portanto os pesquisadores de qualquer lugar do mundo terão o estudo brasileiro como um ponto de referência.

Quais são os próximos passos?
No momento, o meu foco principal é no tema da minha tese, que é o estudo da evolução do cérebro do grandes roedores caviomorfos (grupo de roedores sul-americanos) caçadores e/ou dispersores de sementes. Seguirei reconstruindo os cérebros dos roedores e estudando os padrões evolutivos e ecológicos dessas mudanças.

Qual a importância da CAPES na sua trajetória?
A CAPES se fez presente em toda a minha pós-graduação. Fui bolsista no mestrado e agora no doutorado. Como a dedicação é em tempo integral, as bolsas servem para alimentação, moradia e apoio para desenvolvimento de suas pesquisas. Sem a CAPES, a ciência de qualidade produzida no Brasil seria profundamente prejudicada.

Eu não chegaria onde cheguei se não fosse pelo auxílio e segurança financeira que as bolsas da CAPES me deram. Graças a elas, eu consegui sair de Pernambuco e estudar a mais de 3 mil quilômetros de minha terra natal. Os trabalhos que produzi nessa trajetória ultrapassaram as fronteiras do País e pesquisadores de todo o mundo podem utilizar esses estudos como referências.

Para conhecer o trabalho de José Darival Ferreira, visite:

(Brasília – Redação CCS/CAPES)

Foto: Arquivo pessoal

Fonte: CAPES