Pesquisa da PUCPR desenvolve abordagem pioneira no tratamento de feridas crônicas relacionadas ao câncer

Resultados são promissores, quando considerado o envelhecimento da população, aliado a fatores de risco como o sedentarismo

Um novo estudo liderado por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) está trazendo esperança para pacientes que sofrem de feridas crônicas relacionadas ao câncer. A pesquisa traz uma abordagem pioneira da bioengenharia como uma alternativa promissora aos tratamentos convencionais. A expectativa é revolucionar a maneira de lidar com feridas de difícil cicatrização.

O estudo, realizado pela equipe do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia em Saúde (PPGTS) da PUCPR, em Curitiba, se concentrou em três pacientes oncológicos com feridas crônicas relacionadas ao câncer que não haviam apresentado melhorias significativas após mais de seis meses de tratamento convencional. A enfermeira e pesquisadora do PPGTS, Chayane K. L. de Carvalho, foi responsável pelas punções, aplicações e pelo acompanhamento dos pacientes.

“Feridas crônicas são difíceis de tratar devido à inflamação persistente, infecções prolongadas e à incapacidade do sistema imunológico em responder de forma adequada”, explica Beatriz Luci Fernandes, professora do PPGTS da PUCPR e uma das responsáveis pela pesquisa.

Embora os curativos convencionais possam promover a formação de tecido cicatricial, eles não conseguem restaurar completamente a integridade funcional do tecido afetado. Além disso, os tratamentos tradicionais, geralmente, são custosos e demandam um período maior, muitas vezes proporcionando resultados limitados, uma vez que não fornecem os fatores de crescimento nem recrutam vasos sanguíneos necessários para a cicatrização completa.

No novo tratamento, os pacientes comparecem semanalmente ao ambulatório do hospital parceiro, recebem curativos e retornam para casa para recuperação. Beatriz conta que nos primeiros testes do tratamento, um paciente tinha uma ferida venosa aberta há treze anos, tratada apenas com curativos comuns. Com apenas três meses do novo tratamento, a ferida foi cicatrizada.

“Os curativos são paliativos, eles não resolvem o problema. A nossa intenção foi resolver o problema”, conta a professora, que reforça que o diferencial da pesquisa é adotar uma abordagem alternativa; os pesquisadores utilizaram o FM autólogo, que é uma membrana de fibrina preparada a partir do próprio sangue do paciente. Esta membrana é rica em citocinas e fatores de crescimento que são fundamentais para a cicatrização.

“Essa membrana tem a capacidade de recrutar vasos sanguíneos para começar a irrigação do local da ferida, nutrição das células e, assim, a ferida começa a fechar”, explica. O estudo observou ainda que, entre os três pacientes observados, todas as feridas foram completamente cicatrizadas após o uso do FM autólogo. O tratamento também proporcionou alívio da dor aos pacientes e eliminou o odor desagradável associado às feridas crônicas.

“A membrana de fibrina autóloga mostrou-se eficaz na promoção da cicatrização e regeneração tecidual em feridas crônicas relacionadas ao câncer”, conta Beatriz.

Os efeitos positivos foram observados também em pacientes com comorbidades e feridas extensas. As feridas crônicas também tiveram redução no volume de exsudato (líquido produzido pela ferida) ao longo do tempo. Os resultados são promissores, quando considerado o envelhecimento da população, aliado a fatores de risco como o sedentarismo – ambos fatores de surgimento de feridas crônicas.

Os pesquisadores reconhecem, contudo, a necessidade de conduzir ensaios clínicos em uma população maior para confirmar a eficácia da abordagem. Ainda assim, o estudo representa um avanço significativo no tratamento de feridas crônicas relacionadas ao câncer.

“A expectativa é que novas pesquisas adicionais possam avaliar a eficácia dessa tecnologia, especialmente em pacientes com sistema imunológico comprometido. Agora, esperamos continuar nos próximos anos com mais pacientes com feridas crônicas de várias etiologias”, diz.

De acordo com a pesquisadora, a utilização da membrana de fibrina autóloga como curativo demonstrou ser uma alternativa eficaz, segura e acessível para o tratamento dessas feridas difíceis de tratar. “Os resultados promissores abrem caminho para uma nova era no tratamento de feridas crônicas”, conclui.

Além da professora Beatriz Luci Fernandes, participaram da pesquisa os pesquisadores Chayane Kl de Carvalho, Michel M Dalmedico, Mauren Abreu de Souza. O artigo “Cicatrização de feridas oncológicas pelo tratamento autólogo com biopolímero de fibrina: série de casos” pode ser acessado: Cicatrização de feridas oncológicas pelo tratamento autólogo com curativo de biopolímero de fibrina: série de casos – PubMed (nih.gov)

Fonte: PUCPR