Pesquisadores identificam gene associado à resposta positiva ao tratamento com vacina anti-HIV

A pesquisa sobre a imunovacina terapêutica contra o HIV, desenvolvida na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), dá um novo passo. A conclusão do estudo do genoma de 18 voluntários portadores do vírus revela a associação do gene CNOT1 com a resposta positiva ao tratamento. A descoberta auxiliará a condução das próximas etapas e a estratégia de ação da vacina. Graças ao pioneirismo e à relevância desse trabalho, o Departamento de Genética do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da UFPE tornou-se, em 2013, referência mundial em estudos sobre o genoma do hospedeiro (paciente infectado) e vacina terapêutica anti-HIV com células dendríticas.

 

A investigação do DNA foi realizada com o uso de um microchip (protocolo Illumina – Infinium Human Exome Bead Chip) e considerou mais de 240.000 variantes exônicas dos pacientes, que participam da pesquisa desde o estudo clínico de Fase I, tendo sido vacinados em 2004. A análise, finalizada em 2013, demonstrou que o gene CNOT1 teve associação mais significante na resposta ao tratamento da vacina, a qual atua como um imunotratamento baseado em células dendríticas de portadores do HIV, com uso do vírus autólogo inativo. Vale ressaltar que a vacina anti-HIV teve 45% de sucesso no universo pesquisado. A abordagem das características individuais do genoma do hospedeiro como fatores de interferência na resposta à vacina é pioneira no mundo.

 

“A vacina (imunotratamento) funciona reativando o sistema imune do paciente contra o HIV, estabelecendo de novo uma memória imunológica contra epitopos virais”, explica o professor titular do Departamento de Genética da UFPE e líder da pesquisa, Sergio Crovella.

 

Dos 19 polimorfismos (Single Nucleotide Polimorphysms – SNPs) do gene CNOT1, um deles, nomeado rs7188697, vinculou-se de forma mais expressiva e positiva ao tratamento, particularmente na frequência genética A/A, presente somente em pacientes com boa resposta à vacina. Por outro lado, as frequências com presença do alelo G (A/G e G/G) associaram-se às respostas fracas ou transitórias ao tratamento com imunovacina.

 

Os resultados dessa etapa da pesquisa estão publicados em duas revistas de grande relevância internacional: Human Vaccine Immunotherapy (novembro, 2013) e International Journal of The Aids Society (janeiro, 2014). Os dados também foram apresentados no Aids Vaccine 2013, congresso internacional realizado no período de 7 a 10 de outubro, em Barcelona, Espanha. Na ocasião, o Vaccine Consortium tornou o Departamento de Genética da UFPE local de referência mundial nos estudos sobre o genoma do hospedeiro de todos os pacientes submetidos a vacinas terapêuticas no planeta.
“O trabalho será de genotipagem do genoma completo de todos os pacientes vacinados no mundo com vacina terapêutica baseada em células dendríticas tratadas com vírus autólogo do paciente inativado. O objetivo é achar as causas de boa ou fraca resposta à vacina”, afirma Crovella.

 

HISTÓRICO – A pesquisa teve início em 2001, com montagem de um laboratório de segurança máxima no Instituto de Pesquisa em Imunoterapia de Pernambuco (Ipipe), localizado no Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika)/UFPE, treinamento de pessoal e regularização de documentos. Após testes pré-clínicos, começou a Fase I do estudo clínico, com mapeamento do genoma de 18 portadores do vírus HIV que não apresentavam sintomas da doença e não recebiam nenhum tipo de  tratamento medicamentoso. O objetivo foi identificar como os fatores individuais do hospedeiro interferem nos efeitos da vacina.
Para isso, os pesquisadores isolaram os monócitos (células não atingidas pelo vírus) dos pacientes e os transformaram, in vitro, em células dendríticas (componentes sanguíneos responsáveis pelo acionamento do sistema imunológico e que têm mau funcionamento em portadores de HIV). Após desativação química, o vírus foi colocado junto às células dendríticas para que elas aprendessem a identificá-lo. Então, o material foi reintroduzido no paciente em forma de vacina com a finalidade de denunciar o HIV e fazer o sistema imunológico destruí-lo.

 

Dos 18 pacientes vacinados, oito apresentaram diminuição da carga viral, com o melhor resultado chegando a 80% de redução. Nos outros 10 pacientes, a imunovacina não estimulou o sistema defensivo, mantendo os níveis da carga viral. O único efeito colateral da vacina foi o aumento de linfonodos. Os resultados da vacinação não consideraram distinção de sexo ou idade.
Em 2010, os pesquisadores analisaram 149 genes e 768 SNPs dos voluntários. Foram identificados dois genes com papel essencial na defesa do organismo contra a entrada do HIV e na regulação (negativa) da replicação do vírus: MBL2, codificante pela proteína ligadora de manose, e NOS1, que responde pela produção de óxido nítrico. O primeiro é molécula chave da imunidade inata e o segundo é responsável pelo processo de maturação das células dendríticas, sendo ambos fundamentais na preparação e estratégia da imunovacina.

 

Na primeira etapa do estudo, a UFPE contou com parceria da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Escola Paulista de Medicina (Unifesp), Universidade Johns Hopkins (EUA) e Universidade de Paris V (França).

 

 

Fonte: Agência de Notícias da UFPE

 

 

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