UFRGS – Nanotecnologia é utilizada em projeto pioneiro na odontologia

A professora do Centro Universitário UDF Bruna Genari desenvolveu, em sua pesquisa de doutorado, apresentada no Programa de Pós-Graduação de Odontologia da UFRGS, um sistema adesivo com nanocápsulas de anti-inflamatório (indometacina) e de anti-inflamatório com antibiótico. O trabalho é pioneiro na área da odontologia e supre uma demanda por materiais que superem as limitações dos já existentes no mercado. Os adesivos são colocados no fundo da cavidade de um dente quando há uma cárie, fratura ou falta de estrutura. Ele fica de intermediário entre o material que restaura o dente – que recupera a parte perdida – e a parte de tecido vivo, por exemplo. “Hoje em dia, as restaurações são feitas com resina composta, que necessita de um sistema adesivo para aderir ao dente. Esse adesivo tem uma composição muito semelhante à da própria resina. Porém, além de não ter nenhuma ação terapêutica, dependendo do material, o adesivo pode até mesmo causar uma agressão à polpa do dente”, explica a pesquisadora. Com a intenção de criar um efeito terapêutico, Genari inseriu fármacos nanoencapsulados de liberação controlada nesse sistema adesivo. “A ideia foi trazer uma alternativa de tratamento de cáries profundas que gerariam um tratamento de canal, que é muito mais oneroso para o paciente, e o uso de um material que trouxesse uma ação terapêutica que promovesse um tratamento mais conservador”, diz a dentista.

A professora da Faculdade de Odontologia da UFRGS Susana Samuel, orientadora do projeto, comenta que, quando esse adesivo com nanocápsulas se encontra próximo da estrutura viva, ele libera continuamente os fármacos. “Ele faz uma regeneração, uma restauração do tecido subjacente. Essa metodologia de poder colocar nanocápsulas contendo esses medicamentos, com liberação lenta e controlada, a gente pode aplicar na odontologia graças a uma tecnologia desenvolvida na Faculdade de Farmácia. É algo inédito na odontologia”, comenta Samuel.

Após o término do doutorado de Genari, quem está levando a pesquisa adiante é a doutoranda Marla Cuppini, que já havia trabalhado com esse projeto durante seu mestrado. A continuidade do trabalho está se dando em diferentes materiais, como pastas e soluções – e não mais em adesivos –, mas a tecnologia utilizada é a mesma. “A Bruna usou indometacina, que é um anti-inflamatório nesse adesivo para acalmar a polpa depois de um procedimento de restauração. Já no nosso estudo, a gente tratou canais de dente e botou essa medicação intracanal. É uma continuidade do trabalho da Bruna, só não está nos adesivos. Nós partimos para uma outra parte da odontologia. O trabalho dela seria mais da odontologia restauradora, e eu estou trabalhando com a endodontologia, que é quando se trabalha dentro do canal do dente, quando já há inflamação dentro do dente”, explica Cuppini.

A nanoencapsulação permite que os fármacos sejam liberados de forma controlada, contínua e lentamente. A professora da Faculdade de Farmácia da UFRGS Sílvia Guterres e a professora do Instituto de Química da UFRGS Adriana Pohlmann desenvolveram essa tecnologia para vários outros tipos de medicamento, e foi por meio da parceria com o laboratório dessas pesquisadoras que o projeto se desenvolveu. “Esta é realmente a sacada da nanotecnologia de encapsulação: conseguir deixar mais lenta a liberação dos agentes ativos, como fármacos”, opina Cuppini. Para se ter uma ideia do quanto são pequenas, essas partículas são cerca de 60 mil vezes menores que um fio de cabelo. “E, mesmo assim, dentro dessa pequena partícula tem os fármacos que vão sendo liberados lentamente. E, assim, se um dente tem um processo inflamatório, enquanto esse material se libera, dá tempo de o tecido se restabelecer e curar. Essa é a ideia desse trabalho”, explica Samuel.

Outra vantagem do uso dessa nova tecnologia, como explica Cuppini, é que a liberação do fármaco acontece no local da infecção ou da inflamação. “Então não se vai precisar tomar um anti-inflamatório ou um antibiótico que tenha ação no corpo inteiro, uma ação sistêmica. Assim se está liberando somente no local em que é preciso essa medicação, evitando que se crie resistência ao medicamento”, conta.

A pesquisa se encontra na fase final de testes em ratos e logo passará aos testes em humanos, que serão em pacientes selecionados na Clínica de Atendimento Odontológico da UFRGS. Pelos resultados encontrados até agora, os materiais tendem a funcionar muito bem e todos os pesquisadores estão muito otimistas. “Em situações em que houve uma cárie muito grande e atingiu a polpa, por exemplo, sem chance de restauração, e que o ápice do dente ainda não está completo, que é o caso em crianças, a gente espera e imagina que essa pasta que a Marla está desenvolvendo vá ter um efeito de permitir que haja fechamento do ápice. Assim a gente poderia manter esse dente em boca, é um dente muito estratégico na oclusão e em todos os processos de formação da estrutura da arcada dos pacientes. Será um ganho muito importante”, explana Samuel.

Fonte: ASCOM da UFRGS

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