Universidades federais debatem uso ético e colaborativo da inteligência artificial

O uso responsável e colaborativo da Inteligência Artificial (IA) nas universidades públicas brasileiras foi o foco central da 5.ª Edição do Tech Talks das Universidades Federais, realizada em 30 de outubro de 2025. O evento, que contou com 615 participantes de todo o país, discutiu o tema O que impede as universidades de usarem todo o potencial da Inteligência Artificial? e reafirmou o papel do Tech Talks como espaço estratégico de inovação e transformação digital no ensino superior.

Coorganizado com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o encontro teve abertura conduzida pelo professor Anderson Viçoso de Araújo, diretor da AGETIC/UFMS, que ressaltou a importância da cooperação entre instituições e do compartilhamento de soluções tecnológicas. “A Inteligência Artificial só faz sentido quando está a serviço da cooperação e da eficiência pública”, afirmou.

A reitora da UFMS, Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo, destacou o papel estratégico da transformação digital na universidade e homenageou os servidores públicos pelo seu dia. Ela enfatizou a contribuição dos 168 profissionais de TI da instituição, defendendo políticas que valorizem e fortaleçam as carreiras tecnológicas nas universidades federais.

Representando a região Nordeste, Mydiã Falcão Freitas, superintendente de Tecnologia da Informação (TI) da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e vice-coordenadora do CGTIC/Andifes, apontou os principais desafios para o avanço da IA nas instituições: dados dispersos, infraestrutura onerosa, insegurança jurídica e falta de capacitação. “A IA deixou de ser tendência e tornou-se necessidade. Precisamos de políticas éticas e formação contínua para o setor público”, reforçou.

Já Alexsandro Cardoso Carvalho, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), relembrou a origem do Tech Talks na instituição e destacou o caráter colaborativo do projeto. “A inovação pública nasce do trabalho coletivo”, afirmou, defendendo a padronização e o compartilhamento de soluções entre universidades.

Um dos destaques técnicos do encontro foi a apresentação de Enzo Terra, da equipe de inovação da AGETIC/UFMS, sobre o plugin GLPI-IA, ferramenta desenvolvida internamente para otimizar o suporte técnico de TI por meio de algoritmos de vetorização de texto e similaridade de cosseno. A solução alcançou 85% de precisão nos testes, automatizando a classificação de chamados e o balanceamento de carga entre técnicos. O projeto, criado por seis profissionais da UFMS, despertou interesse pela possibilidade de expansão para outros setores administrativos e foi apresentado como exemplo de inovação pública colaborativa.

Na sequência, a docente Patrícia Baldês, coordenadora do Laboratório de Inovação e Inteligência Artificial (LIA) da Enap, esteve à frente da palestra “A inteligência é artificial, mas o espírito é público”, defendendo o uso ético e inclusivo das tecnologias. Ela apresentou o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que prevê 54 ações estruturadas em cinco eixos estratégicos, entre elas capacitar 20% dos(as) servidores(as) federais e levar soluções de IA a dez órgãos públicos por ano. Patrícia destacou ainda que entre 30% e 50% das respostas geradas por IA podem conter erros, o que exige senso crítico e responsabilidade no uso dessas ferramentas.

O encerramento do evento foi marcado pelo reconhecimento das universidades com maior engajamento. A Unifesp ficou em 1.º lugar, com 130 participantes, seguida pela Ufal (18), UFPR (13), UFV (12), UFRN e UFF (11), além da UFCA e UFTM (10). Com mais de 380 participantes simultâneos no pico da transmissão, o encontro consolidou o Tech Talks como referência nacional na integração entre tecnologia, gestão e academia. A próxima edição do Tech Talks será realizada em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no dia 27 de novembro de 2025, com o tema Quais estratégias garantem que os sistemas críticos da universidade nunca parem?.

Fonte: UNIFESP