Bolsista em foco: resíduos de madeira geram energia sustentável na Amazônia

O material orgânico, além de ser uma alternativa de energia renovável, contribui para o desenvolvimento sustentável do país.

O material orgânico, além de ser uma alternativa de energia renovável, contribui para o desenvolvimento sustentável do país.

Engenheiro Florestal formado pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Michael Douglas Roque Lima é mestre em Ciências Florestais pela mesma instituição e, atualmente, cursa um doutorado em Ciência e Tecnologia da Madeira, oferecido pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais.

Fale sobre sua pesquisa.
A literatura aponta que para cada tonelada de madeira explorada, 2,14 toneladas de resíduos podem ser geradas. A pesquisa defende que o aproveitamento energético dos resíduos madeireiros além de gerar energia limpa, contribui para a sustentabilidade do manejo florestal, reduz as emissões de gases de efeito estufa e o desmatamento na Amazônia. Na pesquisa caracterizamos os resíduos e, posteriormente, aplicamos os conhecimentos teóricos na unidade de produção de carvão vegetal.

Como surgiu seu interesse em pesquisar o assunto?
Sempre tive interesse em trabalhar com temáticas ambientais que tivessem influência direta na sociedade. No mestrado fui orientado pelo Prof. Thiago Protásio, que me apresentou o projeto relacionado aos resíduos do manejo florestal. Em nossas discussões sempre concordamos que esse material apresenta potencial para produção de carvão vegetal podendo beneficiar as populações mais afastadas na região amazônica com sistemas energéticos a base de madeira. Além disso, o suprimento energético a partir de biomassas são fontes renováveis sendo uma alternativa sustentável para atender as demandas das indústrias e das residências da região. Atualmente, mais de duzentas usinas termelétricas isoladas na região norte do Brasil são responsáveis por atender parte da demanda de energia elétrica. Infelizmente, apenas 0,07% desses sistemas isolados utilizam biomassa para cogeração de energia.

Quais foram os resultados?
Nosso estudo mostrou que a cor pode ser um critério de separação das madeiras residuais para a produção de cavacos e carvão vegetal. Essas madeiras apresentaram valores elevados de densidade energética. O agrupamento das madeiras residuais com base na análise estatística de componentes principais separou 20 espécies nativas em 5 grupos com propriedades semelhantes. Assim, foi possível criar padrões de produção de carvão vegetal para cada resíduo. Isso possibilita a maximização da produção industrial.

Quais as vantagens do uso da biomassa?
As vantagens de se utilizar a biomassa residual do manejo estão atreladas ao fato de ser uma fonte energética sustentável, pois durante a combustão dessa biomassa, o CO2 produzido equivale ao CO2 absorvido e fixado pelo processo natural de fotossíntese das plantas. Além disso, essa biomassa apresenta alta disponibilidade na Amazônia e apresenta potencial energético promissor. A ampliação da geração de eletricidade a partir da biomassa residual permitiria reduzir o uso de fontes fósseis e, consequentemente, a mitigar as emissões de gases de efeito estufa e redução de custos.

Quais as contribuições que a sua pesquisa traz para a área?
Nosso estudo traz informações importantes sobre as propriedades da madeira e do carvão vegetal de 20 espécies nativas da Amazônia. A maior contribuição é permitir o correto planejamento estratégico de sistemas de conversão energética que poderão ser supridos a partir dos resíduos do manejo florestal sustentável e, consequentemente, diminuir custos na geração de energia na região Amazônica. 

Qual a aplicabilidade da pesquisa no Brasil?
Diversificação da matriz energética nacional, tornando-a mais sustentável. A siderurgia brasileira é a que mais usa carvão vegetal no mundo. Além disso, a produção de carvão com base no critério de segregação de madeiras residuais pode melhorar os rendimentos e a qualidade do biorredutor produzido na região. Gerar energia elétrica para comunidades isoladas na Amazônia que usam combustível fóssil em geradores. Atender às demandas energéticas dos polos cerâmicos e de agroindústrias presentes na Amazônia.

E no mundo?
Acreditamos que essa pesquisa apresenta discussão importante relacionada a alternativas de fontes de energias renováveis, visando reduzir as emissões de gases do efeito estufa oriundo da queima de combustíveis fósseis. A ampliação do conhecimento relacionado ao potencial energético da biomassa florestal contribui com essa discussão no âmbito mundial e coloca o Brasil como modelo em geração de energia limpa. Finalmente, essa pesquisa mostra ao mundo que o Brasil tem buscado novas fontes energéticas, além de diversificar os produtos advindos do manejo florestal sustentável, mostrando que o país se preocupa com a continuidade de seus recursos naturais.

Qual a importância do seu trabalho para a sociedade?
Caso os resíduos do manejo florestal sejam reaproveitados, como é incentivado por essa pesquisa, naturalmente a produção de carvão vegetal para atender ao polo siderúrgico de Carajás, por exemplo,  pode resultar em geração de emprego e renda, beneficiando a economia local. Além disso, o uso dessas biomassas nas plantas de cogeração poderia contribuir com a diminuição dos custos na geração de energia elétrica.

O que a pesquisa apresenta de diferente daquilo que já é visto na literatura?
Entendemos que o nosso estudo apresenta informações inéditas e muito úteis, especialmente por apresentar dados de uma biomassa residual ainda desconhecida com potencial energético importante para a região Amazônica. Além disso, fizemos comparações práticas com os combustíveis fósseis e estimamos o potencial de mitigação de CO2 a partir do uso energético desses resíduos. De maneira geral, a principal contribuição científica do estudo é apresentar dados concretos e reais das propriedades das madeiras residuais e sua influência na produção e qualidade do carvão vegetal, além de subsidiar discussões para a expansão do uso dessas biomassas geradas durante o manejo sustentável da floresta amazônica.

Sua pesquisa foi reconhecida?
A pesquisa foi divulgada como exemplo de boa prática em um importante jornal regional, o Diário do Pará. Além disso, publiquei três artigos em importantes periódicos internacionais. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S09619534203033

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S096195342030194X?casa_token=sddLGXr88QkAAAAA:Ryu5tpgs8sw7o4KMw3tXfsIOZuv7_V7nHMcrmmJlTvdQn4yN2hxRjExHJYEEO5_n3N3nxVD5jZ8

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960148120313239?casa_token=_Azhbf3HwIcAAAAA:WP2HRyobrV7eRDEokW3bTzMybh4JDsZ8bYAGMNHyMUOr-9wzocPyr2qvG12HLI7jSVxRM5-D8M0

Qual a importância da CAPES neste projeto?
A CAPES foi primordial para a realização dessa pesquisa, especificamente na concessão da bolsa de mestrado. Sem esse financiamento não teria sido possível a conclusão do mestrado e, consequentemente, o início e a finalização desse importante projeto para o Brasil.

Legenda das imagens:
Imagem 1: Michael Douglas Roque Lima, autor da tese de mestrado sobre reaproveitamento de resíduos madeireiros (Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 2: Forno para produção do carvão vegetal (Foto: Arquivo pessoal)
Imagem 3: Resíduos de madeira que serão usados na produção de energia limpa (Foto: Arquivo pessoal)

(Brasília – Redação CCS/CAPES)

Foto: Arquivo pessoal

Fonte: CAPES