Cientista brasileiro identifica nova doença na Amazônia

Artigo foi divulgado na revista oficial do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos

O bolsista Salatiel Ribeiro Dias é formado em Biotecnologia e durante seu mestrado em Biociências, cursado na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), participou da pesquisa que identificou na Amazônia uma infecção nunca antes relatada. O trabalho resultou em um artigo publicado na revista Doenças Infecciosas Emergentes, um periódico mantido pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos.

Como você acredita que sua pesquisa pode contribuir para a melhoria da vida das pessoas?
É um trabalho relevante para a região amazônica, visto que ainda não haviam casos descritos deste tipo de riquetsiose, a infecção causada pelo Rickettsia typhi. E como a área sofre com a dificuldade no acesso a saúde, é importante o enfoque em relação ao monitoramento da região quanto à presença desta doença.

Fale um pouco sobre o seu projeto e o andamento da pesquisa.
O trabalho inicial foi um relato de caso, seguido de investigação epidemiológica na área onde foi identificada a doença. Agora estamos estudando diferentes espécies de animais silvestres em áreas de floresta amazônica, coletando amostras dos próprios animais e seus ectoparasitas, para tentar descobrir qual o reservatório silvestre dessa doença e identificar o vetor responsável pela transmissão.

Qual a importância da bolsa da CAPES para o desenvolvimento do seu projeto?
Recebo a bolsa pelo Programa Demanda Social (DS), o que me permite dedicação integral à pesquisa. Isso foi de grande importância para o desenvolvimento do meu projeto e sem esse apoio seria impossível realizar o trabalho e as viagens que ele me exigiu.

Fale um pouco sobre seu artigo e a revista na qual foi publicado.
Em resumo, o trabalho mostrou que um homem de 37 anos apresentou febre, calafrios, dor de cabeça, mal-estar e tosse – associada à dificuldade respiratória – 10 dias depois de encontrar um carrapato preso à sua coxa direita. O caso ocorreu durante suas atividades de monitoramento herpetológico ao ar livre, na Floresta Nacional Saracá-Taquera, no estado do Pará. Após os sintomas, ele foi internado, foram feitos testes sorológicos e o resultado deu positivo para a infecção por R. typhi, doença até então não descrita na Amazônia brasileira. Porém, o paciente apresentou sorologia negativa para outras espécies de Rickettsia.

Até o momento, não existe evidência no mundo de  que a Rickettsia typhi seja transmitida por carrapatos. Em todas as amostras testadas, não encontramos nenhum vestígio de DNA de Rickettsia typhi, outro fator que sugere que a picada não teve relação com a doença. No entanto, do ponto de vista clínico, a picada do carrapato levou ao tratamento com antibiótico adequado que recuperou o paciente.

A descoberta foi divulgada na revista oficial do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, a Doenças Infecciosas Emergentes (EID). O periódico é destinado a profissionais de doenças infecciosas e ciências relacionadas ao assunto e recebe contribuições de especialistas da academia, indústria, prática clínica e saúde pública. Com fator de impacto de 6,259, o EID é o segundo entre os periódicos de doenças infecciosas de acesso aberto e o sétimo entre os 93 rastreados.

É um privilégio ter meu trabalho divulgado em uma revista internacional de tão grande expressão, pois mostra a relevância da pesquisa, além de divulgá-la em nível mundial.

(Brasília – Redação CCS/CAPES)

Foto: Arquivo pessoal

Fonte: CAPES