Desigualdade racial na queda cognitiva é apresentada no estudo ELSA-Brasil ao comparar pretos, pardos e brancos
Natan Feter, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS, é o primeiro autor e líder da pesquisa publicada no artigo Racial Inequities in Cognitive Decline of Middle-Aged and Older Adults: Findings of the ELSA-Brasil Study (Desigualdades raciais no declínio cognitivo de adultos de meia-idade e idosos: resultados do estudo ELSA-Brasil – em tradução livre), veiculado recentemente na revista Neurology.
O trabalho acompanhou mais de 10 mil participantes durante aproximadamente nove anos e identificou desigualdades raciais na função cognitiva entre adultos de meia-idade e idosos. Os pesquisadores revelam que aos 35 anos pessoas pretas e pardas já apresentavam desempenho cognitivo inferior com o declínio mais rápido, especialmente antes dos 60.
A pesquisa, desenvolvida no âmbito do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), aponta que o risco de desenvolver comprometimento cognitivo entre pretos e pardos foi até três vezes maior em comparação aos brancos, sendo que o início ocorreu, em média, 9,6 e 9,4 anos antes, respectivamente. Entre indivíduos com menor escolaridade, as desigualdades foram ainda mais acentuadas.
Segundo o coordenador do estudo, Natan Feter, “os resultados evidenciam o impacto duradouro do racismo estrutural e das desigualdades no acesso à educação e à saúde, reforçando a urgência de políticas públicas voltadas para prevenção e diagnóstico precoce, especialmente na meia-idade”, explica.
Sobre o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto
O ELSA-Brasil é a maior coorte multicêntrica na América Latina dedicada ao estudo de doenças crônicas e seus fatores de risco. Os autores defendem que ampliar o acesso à educação de qualidade e melhorar a prevenção e o controle de hipertensão e diabetes são medidas essenciais para reduzir as disparidades cognitivas ao longo do tempo.
Em estudos epidemiológicos, uma maior coorte refere-se a um grupo de pessoas com características em comum (idade, local de nascimento ou condição médica) que é acompanhado ao longo do tempo para observar determinados aspectos de saúde. Estudos de coorte de grande tamanho são importantes porque permitem aos pesquisadores analisar fatores de risco e padrões de doenças com mais precisão, especialmente em populações diversas e com ampla cobertura de dados.