I Colóquio Feminicídio à Brasileira: reverberações coloniais compartilha experiências e resultados de pesquisas sobre o fenômeno do feminicídio

A PUC Minas sediou nesta quarta-feira, 18 de setembro, a abertura do I Colóquio Feminicídio à Brasileira: reverberações coloniais. O encontro, de caráter interdisciplinar e interinstitucional, reúne pesquisadores, profissionais e estudantes para refletir sobre os legados coloniais que estruturam as dinâmicas de violência contra as mulheres no Brasil contemporâneo, especialmente no âmbito das políticas públicas e dos discursos institucionais.

O primeiro dia do colóquio é dedicado à apresentação dos resultados da pesquisa sobre o fenômeno do feminicídio, articulando teoria, prática clínica e extensão universitária. Iniciado em 2023 com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o estudo vem investigando como a colonialidade se inscreve nas experiências de violência de gênero, a partir de narrativas de mulheres sobreviventes, incluindo indígenas e quilombolas.

Na mesa de abertura, a Profa. Dra. Mônica Januzzi, docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas e integrante da comissão organizadora do evento, ressaltou o caráter coletivo do trabalho e agradeceu às mulheres que compartilharam suas histórias. “Este é, também, o momento de devolvermos a elas, em forma de trabalho acadêmico, científico e de impacto social, um pouco daquilo que suas narrativas nos proporcionaram”, afirmou.

A coordenadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade, Profa. Dra. Luciana Kind, destacou a importância de enfrentar o feminicídio a partir de múltiplos saberes. “O feminicídio é uma sequência trágica, nunca individual, mas sintoma coletivo de desigualdade de gênero, de hierarquias silenciadas e de falhas no seu enfrentamento. Que este seja um espaço de coragem, escuta e construção de futuros possíveis”, disse.

O pró-reitor de Pesquisa e de Pós-graduação, Prof. Dr. Martinho Campolina Rebello Horta, enfatizou a relevância do evento para a missão acadêmica e social da Universidade. “Observamos aqui a plena articulação da pesquisa científica de alto impacto com a extensão universitária e o ensino, gerando impacto social e profissional em nossa comunidade e além dela”, relatou.

Também compuseram a mesa de abertura a juíza de direito do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG), Dra. Márcia de Souza Vitória, que relatou experiências de sua atuação no enfrentamento à violência doméstica; e a vice-prefeita e secretária de Assistência Social de Betim, Cleusa Lara, que anunciou a inauguração, em outubro, da Casa da Mulher Jaqueline, em homenagem a uma jovem vítima de feminicídio.

Na sequência, foi realizada a primeira mesa-redonda do colóquio, com a presença das professoras doutoras Jacqueline Moreira (PUC Minas), Mônica Januzzi (PUC Minas), Andréa Guerra (UFMG), Leônia Cavalcante (Unifor) e do Prof. Dr. David Cárdenas (UFPB).

As professoras Jacqueline Moreira e Mônica Januzzi discutiram os efeitos das heranças coloniais na naturalização da violência de gênero e destacaram o conceito de corpo-território como chave para compreender as marcas de dominação histórica inscritas nos corpos das mulheres, em especial negras, indígenas e periféricas.

A professora Leônia Cavalcante apresentou a pesquisa Violência de gênero contra a mulher: uma proposta de escuta e intervenção com as mulheres e com filhas e filhos, ressaltando a importância de práticas de acolhimento e cuidado que envolvam também os contextos familiares. Já o professor David Cárdenas abordou a relação entre o corpo, a violência de gênero e a psicanálise, refletindo sobre as dimensões subjetivas que atravessam a experiência da violência. Encerrando a mesa, a professora Andréa Guerra trouxe contribuições sobre decolonialidade e psicanálise, apontando caminhos para pensar práticas clínicas e acadêmicas que rompam com lógicas coloniais e deem centralidade às vozes das mulheres.

A programação do evento prossegue durante a tarde desta quinta-feira, dia 18, e ao longo de sexta-feira, dia 19, com conferências, mesas-redondas e apresentações que ampliam o debate sobre o tema, buscando caminhos para o enfrentamento da violência de gênero em sua dimensão estrutural. Confira as atividades programadas aqui.

Fonte: PUC Minas