O Emmy, o Oscar e a sala de aula

Ronaldo Mota*

O Prêmio Emmy, conferido pela Academia de Televisão, Artes e Ciências dos Estados Unidos, é atribuído a programas e profissionais de televisão, especialmente séries. Neste momento, para o período 2014-2015, a seleção final está em curso e no próximo dia 4 de junho haverá o anúncio dos vencedores, sendo a entrega prevista para dia 25 de julho. O Prêmio Oscar, 20 anos mais antigo e dedicado ao cinema, é entregue anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles.

 

Fazendo uso da linguagem comum a filmes e séries, poderíamos dizer que fotograficamente o Oscar tem mais prestígio. No entanto, olhando em dinâmica cinematográfica, o Emmy tem uma curva mais ascendente, indicando que em breve eles terão reconhecimentos semelhantes e, em seguida, o Emmy deverá ser mais prestigiado do que o Oscar.

 

No terreno da linguagem audiovisual e da dramaturgia, podemos observar que as séries de sucesso do Emmy não são menos arte ou mais superficiais do que os filmes longa metragem do Oscar. Filmes e séries são simplesmente diferentes e apresentados em diferentes embalagens. Enquanto os filmes tradicionais seguem, em geral, um padrão que mantém estreita correspondência com a expectativa dos mais velhos, as séries, algumas enormes em duração, exploram cortes temporais que dialogam com muito mais facilidade com os jovens.

 

Filmes, séries e o comportamento dos jovens permitem uma analogia alargada que nos suscita ilustrar tendências e perspectivas futuras para as salas de aula e as metodologias de ensino associadas. Hoje, poucos jovens assistiriam até o fim a um filme mais longo como, por exemplo, “E o vento levou”, de 1939, com 238 minutos de duração. No entanto, estes mesmos indivíduos conseguem assistir um conjunto de episódios de uma série no dobro ou triplo desse tempo. Há diferenças substantivas no conteúdo, mas a forma em especial se destaca, sendo os módulos em que os conteúdos são apresentados definidores da duração da atenção e, consequentemente, da capacidade de foco da nova geração.

 

Recentemente, Salman Khan, em artigo na revista Time, reafirmou o paradigma de 15 minutos como sendo o tempo máximo aproximado de capacidade de foco de um estudante médio contemporâneo. O contexto, a idade, a abordagem e a metodologia permitem flutuar em torno desse tempo, mas os experimentos por ele citados reforçam a conclusão de que as aulas tradicionais, nos tempos padrão de 50 ou 90 minutos, são basicamente exercícios de desperdício de tempo.

 

Em uma sociedade em que a informação está abundantemente disponível e instantaneamente acessível, utilizar o precioso tempo de sala de aula para somente prover conteúdo ordinário, que poderia ter sido entregue antes, carece de sentido. As informações preliminares poderiam, à luz das tecnologias digitais, ter sido apresentadas antes da aula aos educandos, reservando os momento de sala de aula a atividades mais qualificadas, com maior eficácia de aprendizagem, extrapolando a mera exposição do professor.Nesta nova dinâmica seria possível compatibilizar módulos temporais nas dimensões que maximizam a atenção e os aproveitamentos.

 

Explorando a analogia de séries e filmes com as salas de aula tradicionais, é razoável supor que estas são duplamente anacrônicas, dado que transmitem conteúdos com linguagens, em geral, pouco atraente se organizam essa transmissão em tempos que favorecem a dispersão dos alunos.

 

Cabe aos educadores entender o que está ocorrendo, repensar suas metodologias, reestruturar as salas de aula, seja nos seus formatos, seus conteúdos e seus tempos, criando espaços onde uma educação contemporânea possa emergir.

 

*Ronaldo Mota é reitor da Universidade Estácio de Sá

 

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