Compreender e conhecer os desafios que os professores estão vivendo, bem como quais aprendizagens estão sendo mais significativas, foi o ponto de partida do estudo
Dezenas de municípios do Rio Grande do Sul e algumas localidades de fora do Estado e do País participaram do estudo desenvolvido pelo grupo de pesquisa Processos Motivacionais em Contextos Educativos do programa de pós-graduação em Educação da Escola de Humanidades da PUCRS. Ao todo foram mais de 200 participantes que responderam a um questionário online com 25 questões durante o mês de maio.
O número mais expressivo de participantes é de docentes de escolas públicas (74.8%), que atuam no ensino fundamental (40%) e com mais de 15 anos de docência (36.6%). Eles também representaram a maioria (93,6%) das instituições que adotaram o ensino remoto emergencial.
Entre os principais resultados registrados estavam os desafios profissionais (com destaque para o uso de tecnologias, adaptação curricular, comunicação, sobrecarga de trabalho, etc.) e os pessoais (expectativa, motivação, espaço de trabalho familiar, etc.).
Em paralelo, destacou-se o apoio das instituições e colegas de trabalho. A colaboração entre professores foi apontada como um aspecto positivo. Já o impacto do distanciamento social na relação emocional com os estudantes foi registrado como negativo.
Sobre os resultados, a coordenadora do estudo, a professora Bettina Steren dos Santos, observa que o período também trouxe importantes perspectivas de superação e de construção de novos conhecimentos, bem como reflexões sobre crenças pessoais e o fortalecimento do valor da educação e do papel do exercício presencial da docência (com destaque para aprendizado pessoal e valorização interpessoal). Mas acrescenta: “os docentes revelaram que as dificuldades técnicas e emocionais para se readequar à nova realidade os deixaram muito inseguros”.
Nas análises gerais do grupo de pesquisa, aos poucos foi sendo percebida a necessidade de recriar um espaço educacional online e não simplesmente um espaço que fornecesse materiais de acesso rápido.
“Essa mudança de paradigma exige um olhar atento para diferentes possibilidades de formação docente, principalmente no que se refere à apropriação digital e a resolução de problemas de maneira colaborativa. Acredito que poderemos avançar e melhorar os processos educacionais quando a aprendizagem acontecer continuamente e de forma significativa. Um dos pontos fundamentais é considerar as diferentes especificidades e potencialidades que o meio oferece, emergindo, assim, novas ecologias educacionais e um acréscimo de qualidade em todo o sistema”, considera Bettina.
Na conjuntura da emergência, a pesquisa evidencia ainda o grande abismo presente na relação da escola com a comunidade.
“Não foi possível identificar quais famílias tem condições de acesso às aulas remotas, muitas não dispõe de tecnologia que dê conta (desde equipamento até rede de internet), como também não dispõe de tempo (classe trabalhadora não dispensada na quarentena) para acompanhar as atividades dos seus filhos e retornar aos professores”, observa Bettina.
Questionados também sobre como percebiam os estudantes nesse contexto, incluindo os com necessidades específicas ou deficiências, a maioria dos professores apontou apatia e ansiedade, seguido de falta de apoio familiar e tecnológico. Sobre a influência desse momento no processo de aprendizado dos estudantes, os docentes percebem desenvolvimento da autonomia e valorização da escola.
Imagem: Reprodução/Facebook PUCRS
Fonte: PUCRS – Portal