Por que a UFRGS é a melhor federal do Brasil em sustentabilidade e impacto social

Na semana passada, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foi reconhecida como a sexta universidade da América Latina com maior sustentabilidade e impacto social, segundo o QS World University Rankings: Sustainability 2023. No Brasil, ficou em primeiro lugar entre as federais. A boa posição se deve a uma gama de ações comunitárias e ambientais desenvolvidas por professores, pesquisadores e gestores.

A Quacquarelli Symonds (QS) é uma empresa britânica especializada na análise de instituições de Ensino Superior de todo o mundo. Anualmente, divulga rankings avaliando faculdades segundo diferentes indicadores. O ano é 2023 porque o objetivo é servir de guia para estudantes escolherem seu local de estudos para o ano que vem.

Mais de 700 universidades de elite do planeta foram avaliadas sob os critérios dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ONU) – metas para reduzir a pobreza e proteger o planeta (veja no infográfico). O ranking agregou os objetivos em quatro indicadores: sustentabilidade, ações sociais, governança e economia com impacto social.

Secretária de Avaliação Institucional e professora de Engenharias na UFRGS, Soraya Tanure destaca que a universidade realiza pesquisas sobre assuntos relacionados aos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável – cita, por exemplo, o grande número de estudos sobre água e saneamento no Instituto de Pesquisas Hidráulicas e no Instituto de Geociências.

— Temos ícones internacionais na universidade que se dedicam a esse tema. A sustentabilidade sempre esteve em pauta. Vemos uma dedicação maior agora porque é um tema de urgência. Não há como fugirmos. Precisamos nos adequar — diz Tanure.

Das mais de 7 mil disciplinas nas 98 graduações da UFRGS, pelo menos 700 são voltadas à área de sustentabilidade. Há carreiras específicas na área – como Engenharia Ambiental, Engenharia de Gestão de Energia e o Bacharelado em Desenvolvimento Rural -, mas também disciplinas voltadas ao meio ambiente em graduações menos afeitas ao tema.

Uma gama de ações ambientais é implementada no dia a dia da universidade. No campus Litoral Norte, em Tramandaí, há um mês começou a funcionar uma usina de energia solar fotovoltaica, que produzirá eletricidade para todos os prédios e ainda ajudará, com o excedente gerado, a abastecer os campi de Porto Alegre.

Segundo Juliana Klas, vice-coordenadora da usina de energia fotovoltaica, “a usina é um laboratório a céu aberto para os alunos”. A potência é o equivalente para o consumo mensal de 80 casas para famílias de classe média com quatro moradores.

A obra custou R$ 2 milhões, pagos com verba do Ministério da Educação para incentivo a energias renováveis. Por mês, a usina já produz o dobro da energia consumida. Em outubro, a economia em eletricidade foi de R$ 16,5 mil. Na primeira hora de conversa com GZH na ensolarada manhã de quinta-feira (3), a usina já tinha produzido R$ 100 em eletricidade.

Professora de Engenharia de Gestão em Energia e coordenadora da usina, Aline Cristiane Pan destaca a economia para os cofres públicos e o impacto positivo no meio ambiente, além da formação de profissionais que atuarão em outras regiões do Estado para promover o uso de energias renováveis.

— O Rio Grande do Sul é o terceiro Estado que mais produz energia solar, atrás de Minas Gerais e São Paulo. Vamos continuar crescendo como país, então precisamos investir mais em produção de energia. Só que temos que pensar em eficiência energética e, também, em sustentabilidade. Não adianta ter carro elétrico e abastecer com combustível fóssil. Teremos um crescimento considerável (da energia solar) nos próximos anos — diz Aline, destacando que a usina fotovoltaica do campus funciona também como estação meteorológica.

No Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) e no campus do Litoral Norte, há centrais de coletas de resíduos, em galpão fechado, para ajudar na separação do lixo. A alimentação também é foco: pelo menos 30% da comida servida nos restaurantes universitários provêm de agricultura familiar. A universidade instaurou o pedido de compra de almoço ou janta prévio para reduzir o desperdício de comida – a medida, contudo, causou protestos entre estudantes.

A UFRGS também ganhou pontos no ranking pelos projetos sociais de impacto à população de fora da universidade – como os atendimentos gratuitos de estudantes de Psicologia, de Odontologia e de Direito à comunidade no geral.

Um dos Objetivos de Desenvolvimento Social é a promoção da igualdade entre homens e mulheres, e a UFRGS é reconhecida por deter grande número de pesquisas sobre gênero. Outro é a redução da pobreza, e a universidade é referência em estudos sobre fome e desenvolvimento econômico.

Uma das pesquisas, no Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia, busca melhorar geneticamente sementes de plantas nativas do pampa e da mata atlântica. O objetivo é usá-las em áreas desmatadas por cultivo de soja, eucalipto e pinus a fim de reconstruir a vegetação nativa (existente antes da substituição por outra espécie após ação humana). Em uma propriedade da UFRGS em Eldorado do Sul, as sementes são plantadas para os cientistas observarem seu crescimento na vida real.

— O produtor terá uma opção de planta para colocar em cima da área que hoje está degradada, o que gera benefício ambiental, porque é uma maneira de preservar as espécies nativas do Rio Grande do Sul. Mas há também benefício financeiro para o produtor, porque a vegetação poderá ser usada por animais para alimentação, e em cima disso o produtor terá carne, lã e leite — explica o pesquisador e professor da Faculdade de Agronomia Roberto Luiz Weiler.

Para aumentar a inclusão de estudantes, também um dos indicadores do ranking, a UFRGS mantém um setor específico para ajudar professores e alunos com algum tipo de deficiência – seja orientando o docente ou fornecendo ferramentas, como teclado em braile.

A governança, outro tema avaliado, aparece em iniciativas como a criação de uma Comissão de Sustentabilidade. Na última semana de outubro, a UFRGS aderiu um programa do Ministério do Meio Ambiente, de participação voluntária, chamado Agenda Ambiental na Administração Pública.

Entre os objetivos, estão promover o uso racional de recursos naturais, reduzir a destinação inadequada de lixo, realizar compras públicas “sustentáveis”, minimizar impactos ambientais das construções públicas e capacitar servidores para incorporarem uma gestão “verde” no dia a dia da universidade.

— Estamos conseguindo construir na UFRGS uma cultura de sustentabilidade. Queremos dar conta de todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para contribuir com a sociedade. Nosso papel é esse, as universidades publicas trabalham para atender à comunidade — diz Soraya Tanure.

Fonte: GZH