A PUC Minas e o ChildFund Brasil lançaram, na quinta-feira (12), o primeiro indicador no Brasil voltado, exclusivamente, para avaliar a situação de pobreza multidimensional de crianças de 0 a 11 anos, em escala municipal. Ao contrário dos indicadores tradicionais, o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) extrapola o fator renda, mensurando a pobreza a partir da privação de necessidades essenciais ao desenvolvimento e qualidade de vida, como o acesso à educação e à saúde.
Os estados do Maranhão, Piauí e Paraíba foram escolhidos para a realização do primeiro estudo após um levantamento preliminar feito pelo ChildFund Brasil, mensurado a partir de outros indicadores, que apontou que os três possuem as situações de risco social.
Os dados inéditos serão apresentados nesta quinta-feira, 12 de dezembro, durante o lançamento do Núcleo de Inteligência Social (NIS), fruto da parceria entre a PUC Minas, responsável pela execução do estudo, e o ChildFund. A cerimônia será às 17h, no Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, em Belo Horizonte (avenida Dom José Gaspar, 290, bairro Coração Eucarístico).
Foi constatado que tanto a incidência quanto a intensidade da pobreza são maiores em domicílios com presença de crianças. Considerando o recorte do ChildFund Brasil, foram encontradas 186.241 crianças com idade de 0 a 11 anos em situação de pobreza multidimensional, sendo 126.760 no Maranhão, 31.708 no Piauí e 27.773 na Paraíba.
Os índices também identificaram situações de vulnerabilidade, isto é, quando o domicílio vivencia o risco de cair na pobreza multidimensional. Nos três estados, foi contatada a existência de 577.946 crianças em situação de vulnerabilidade, na mesma faixa etária, sendo 353.875 no Maranhão, 118.274 no Piauí e 105.797 na Paraíba. Somados, verificam-se proporções de 30%, 23,4% e 18% em relação ao total de crianças, respectivamente.
O IPM é útil para qualquer organização, governo e empresa que queira direcionar ações de intervenção junto a pessoas em situação de pobreza multidimensional, possibilitando a identificação desses indivíduos e onde elas se encontram, garantindo que as ações de desenvolvimento serão voltadas para quem realmente precisa.
Na PUC Minas, o trabalho envolve professores dos programas de pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Social e Ciências Sociais, além de alunos bolsistas de graduação, mestrado e doutorado. O NIS conta ainda com a participação de outras áreas do conhecimento: Psicologia, Ciências Exatas e Informática e Comunicação. “Queremos ser referência em inteligência social, oferecendo dados qualificados a entidades do terceiro setor”, afirma o professor Paulo Fernando de Carvalho, coordenador do NIS.
Metodologia
O levantamento foi feito a partir de dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 e utilizou a metodologia da Iniciativa de Pobreza e Desenvolvimento Humano da Universidade de Oxford (OPHI). Nessa metodologia, 13 indicadores trabalhados compõem quatro dimensões: educação, saúde, trabalho e padrão de vida. Na versão brasileira, foi adicionada a dimensão trabalho, como parâmetro comparativo.
Os indicadores de frequência à escola e distorção idade-série das crianças em idade escolar e de escolaridade dos membros adultos são considerados na dimensão educação. Já o indicador de mortalidade infantil compõe dimensão de saúde.
No âmbito do trabalho, são utilizados os indicadores de trabalho infantil, desocupação/desemprego e trabalho informal dos membros adultos. Por fim, a perspectiva padrão de vida é composta por material do domicílio, abastecimento de água, saneamento, tratamento do lixo, densidade morador por dormitório e consumo.
Debate internacional
A escolha pelo IPM busca um alinhamento com o debate internacional atual sobre mensuração da pobreza multidimensional, pois segue as recomendações da ONU para o monitoramento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Nesse primeiro projeto, o valor do IPM foi usado para ranquear os municípios. Aqueles com os valores mais altos foram considerados como prioritários e, em torno deles, foram definidos grupos de cidades com quantidades mínimas de crianças pobres e que atendessem a determinados critérios logísticos. Futuramente, esses locais poderão ser atendidos pelos projetos do ChildFund Brasil.
Fonte: PUC-Minas