Seis docentes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) figuram entre os 2% de cientistas mais influentes do planeta, segundo ranking internacional criado pelo professor John Ioannidis, da Universidade de Stanford (EUA). A lista, referente ao ano de 2024, avalia o impacto e a relevância da produção científica em escala global em diferentes áreas do conhecimento.
O estudo inclui 1.461 pesquisadores brasileiros, o que posiciona o Brasil na 24ª colocação global. A avaliação considera tanto o impacto acumulado ao longo da carreira, quanto o obtido no ano de referência (2024). Na UFJF na avaliação de Carreira (1996–2024) foram citados a pesquisadora Maribel Navarro, Delfim Soares Júnior e o professor aposentado do Departamento de Ciência da Computação, Hélio José Correa Barbosa. Barbosa dedicou sua carreira à área de Métodos Numéricos, com ênfase no desenho, análise e aplicações de metaheurísticas em otimização, mecânica estrutural, pesquisa operacional e modelagem de biomoléculas.

A pesquisa de Delfim Soares usa modelagem numérica para solução de problemas complexos. (Foto: Twin Alvarenga)
Já no critério Impacto em 2024, estão entre os mais influentes Giancarlo Lucchetti, Cleidiel Aparecido Araújo Lemos, Rossana Correa Netto Melo e mais uma vez a pesquisadora Maribel Navarro. Para a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, Priscila Faria o resultado é motivo de grande celebração, pois reflete o talento, o empenho e a dedicação de nossos pesquisadores, que diariamente contribuem para o avanço do conhecimento e para a projeção da UFJF no cenário científico global. “Além do destaque internacional, é motivo de satisfação reconhecer o papel fundamental dos docentes na formação de estudantes de graduação e pós-graduação, mantendo viva a percepção de que o conhecimento se multiplica e se renova dentro da Universidade”.
O Coordenador de Pós-Graduação e Pesquisa, Leonardo Goliatt, explica que os cientistas foram classificados em 22 áreas científicas e 174 subáreas. A seleção inclui os 100 mil pesquisadores mais influentes ou aqueles situados entre os 2% mais bem colocados em suas subárea. O ranking utiliza dados da base Scopus (Elsevier) e adota como principal métrica o c-score, que mede o impacto das citações recebidas pelos cientistas, levando em conta fatores como o número de coautores e a posição do pesquisador em cada publicação (autor único, primeiro ou último autor). “O índice privilegia a influência e a qualidade das contribuições acadêmicas, em vez da simples produtividade medida pelo número de artigos publicados”, conclui.
Os destaques da UFJF
Para compor o ranking, foram reunidas informações padronizadas sobre citações, incluindo o índice h – com base na produtividade e impacto a partir dos artigos mais citados. Maribel Navarro, do Departamento de Química e responsável pelo Laboratório de Química Bioinorgânica e Catálise foi destaque nos dois critérios (Carreira e Impacto 2024). Sua trajetória científica é focada no desenvolvimento de metalofármacos destinados ao tratamento de várias doenças como câncer, fúngicas e, sobretudo, parasitárias, como a malária, a leishmaniose e a doença de Chagas.
De acordo com a pesquisadora, estes metalofármacos são concebidos para atacar alvos essenciais à sobrevivência destes microrganismos. “Nossos resultados são promissores, demonstrando o verdadeiro potencial da química inorgânica medicinal no desenvolvimento de fármacos eficazes e seguros. O intuito é que os estudos conduzam a uma quimioterapia capaz de salvar milhões de pessoas afetadas por estas doenças”. Maribel destaca também a contribuição com a formação de recursos humanos por meio da orientação de estudantes da graduação e pós-graduação.

“Praticamente todo grande avanço científico — de vacinas à energia limpa — começa com a pesquisa básica”, Rossana Melo.
Para Rossana Melo, do Instituto de Ciências Biológicas, é uma honra constar no ranking da Stanford-Elsevier. “Nesse momento penso no caminho que me levou até aqui, na minha trajetória como estudante de graduação e pós-graduação de universidades públicas, no meu grupo de pesquisa e nas colaborações com outros cientistas e instituições, ao longo de 30 anos dedicados à ciência. Divido essa conquista com o grupo e as parcerias, porque a ciência é, acima de tudo, um esforço colaborativo”. Rossana trabalha na área da pesquisa básica, estudando como as células do sistema imune funcionam, tanto em situações normais, quanto em doenças. “A pesquisa básica é primordial porque gera conhecimento para descobrir novas soluções, tratamentos e tecnologias”, completa.
Já a área de pesquisa de Delfim Soares, da Faculdade de Engenharia, Departamento de Estruturas, é modelagem numérica e seu foco recente tem sido a criação de novos esquemas de cálculo adaptativos tempo-espaço. “Estas novas técnicas permitem a obtenção de resultados mais precisos e eficiente, reduzindo consideravelmente custos operacionais”. De acordo com o pesquisador, o estudo permite uma série de avanços como a confecção de projetos de conforto e desempenho acústico; realização de ensaios não destrutivos para se detectar fissuras e defeitos estruturais; proteção sísmica e controle de vibrações; prospecção geofísica para exploração de petróleo, gás e minerais e monitoramento ambiental. “Desta forma, a pesquisa torna-se de interesse a diversos setores da economia e sociedade, impactando não somente a comunidade científica internacional, mas também representantes relevantes do mercado, como a Petrobras, que já faz uso de algumas destas técnicas desenvolvidas.”

Giancarlo Lucchetti se dedica à área de Saúde e Espiritualidade, Educação Médica e em saúde e Geriatria e Gerontologia.
Pesquisador do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, Lucchetti tem se dedicado a três linhas de pesquisa. “Acredito que cada linha impacte de modo distinto a comunidade científica e a sociedade. Por exemplo, a forma como a espiritualidade pode promover saúde, nos faz pensar que todas as dimensões do ser-humano são importantes e devem ser consideradas pelos profissionais de saúde. A linha de educação médica evidência estratégias de ensino e cuidado com a população universitária, trazendo um paradigma mais centrado no estudante, para uma universidade de maior excelência. Já o campo da geriatria possui grande relevância no contexto atual de crescimento da população idosa, com peculiaridades no cuidado em saúde, servindo de alerta para profissionais e gestores”.

Cleidiel Lemos é professor do Departamento de Odontologia do Campus Avançado de Governador Valadares.
Outro citado no critério Impacto 2024, o pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde (PPGCAS) da UFJF-GV, Cleidiel Lemos destaca que desde a pós-graduação se dedica à metodologia de síntese de evidências, especialmente a revisões sistemáticas. “A partir dessa linha de pesquisa, desenvolvemos estudos voltados para uma odontologia baseada em evidências a fim de orientar decisões clínicas. O intuito é ampliar a visão crítica dos alunos e pesquisadores quanto a uma prática fundamentada e baseada em evidências. Acredito que o impacto desses trabalhos, frequentemente utilizados como referência em outras pesquisas, tenha contribuído para minha presença nessa lista.”
Este resultado consolida o papel da UFJF como instituição de destaque no cenário científico nacional e evidencia o impacto internacional de sua produção acadêmica. A presença de seis pesquisadores no topo da lista reforça o compromisso da universidade com a pesquisa de qualidade e relevância global.