Série: 2020 em notícias – CRUB e os desafios da educação superior no Brasil no contexto da Covid-19

Os desafios impostos pela crise da pandemia da covid-19 em 2020, foram tema da 92ª Plenária do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras. Realizado em plataforma virtual a Plenária reuniu estudiosos da educação superior, Reitoras e Reitores, para ampliar a análise sobre essa difícil realidade para a humanidade e que afetou fortemente a educação em todos os níveis e modalidades, e todos os setores econômico e produtivo do país.   

A abertura da Plenária coube ao Presidente do CRUB Reitor Waldemiro Gremski, da PUCPR, e ao Ministro da Educação, Milton Ribeiro, que destacou sua relação com o Conselho de Reitores, o desafio da inovação e a importância da modalidade do Ensino a Distância.

“Preocupa muito ao CRUB uma questão urgente e de fronteira. É imprescindível que todos nós, reitores e dirigentes de instituições de ensino, de qualquer nível, estejamos cientes de onde nós estamos e para onde podemos e devemos ir”, salientou o Reitor Waldemiro Gremski.

Para subsidiar as discussões, o CRUB convidou alguns dos maiores especialistas em educação superior no Brasil.  O professor Simon Schwartzman, sociólogo pela UFMG e doutor em ciência política pela University of California Berkeley,  falou sobre as diferentes missões do Ensino Superior e sua necessária transformação e destacou algumas distorções no sistema educacional. Segundo ele, essas distorções devem ser corrigidas independente da pandemia, para que as instituições encontrem, cada uma dentro de seu perfil, sua respectiva missão.

Schwartzman aponta que o sistema brasileiro trata igualmente todas as instituições de ensino  superior (IES) quando, na verdade, elas são diferentes. “Ainda que, no papel, todas as IES possam dar os mesmos títulos e sejam avaliadas pelos mesmos critérios, na realidade elas diferem muito quanto aos professores que têm, aos alunos que recebem e às atividades que desempenham”.

O modelo gera, segundo o especialista, uma contradição entre a igualdade formal e a desigualdade de fato que “se reflete sobretudo no alto custo nas instituições públicas, e níveis altíssimos de abandono, tanto nas públicas quanto nas privadas”.

Os efeitos da Covid-19, somados à restrição de recursos provocada pela crise fiscal, impõem que as IES tornem mais claras suas missões e se organizem para cumprí-las, “adaptando-se a um novo contexto de mais exigências e de menos recursos”.

A apresentação do professor Simon pode ser acessada aqui.

O pró-reitor Administrativo da Univates, Oto Roberto Moerschbaecher, levou para a Plenária a experiência australiana de financiamento estudantil. Coordenador do grupo nacional que discute, com o ministério da Economia, a criação de programas estruturantes para o futuro da educação, Oto contou que a equipe vê o modelo australiano como o mais bem-sucedido e viável para o Brasil, desde que adaptado à realidade econômica e social do país.

Segundo o pró-reitor, o financiamento estudantil é um dos principais gargalos na educação superior, que se agravou com a pandemia. “A inadimplência do novo FIES alcança hoje os 45%”, destaca. Em seu entender, uma das causas para a elevação desse índice é um sistema falho de cobrança. “Precisamos melhorar em muito a capacidade de cobrança, que hoje é um ponto falho em todos os programas de financiamento estudantil do país”, diz.

A professora Cristina Elsner de Faria, Gerente de Educação e Ciências na Embaixada da Austrália no Brasil, que dividiu com o  Professor Oto a exposição, contou que, no país da Oceania, o índice de não pagantes chega a 12% ou 15%, e é composto por “pessoas que nunca ingressaram no mercado de trabalho ou que ingressaram com pouco recurso financeiro”. Ela citou ainda estudos feitos junto à Receita Federal do Brasil, demonstrando que o país teria condições de implantar um sistema semelhante ao australiano, contanto que fizesse uma adaptação no sistema legal para que o modelo de financiamento pudesse ser gerido pela Receita, que tem uma grande capilaridade. “Com base no e-social foi entendido que no Brasil seria possível, sim, adotar o sistema”. Maiores detalhes sobre a apresentação podem ser conferidos aqui.

Foto: Maria Eduarda Angeli