Tese estuda a trajetória indígena por meio de materiais genéticos

Doutorando pela UFMS e ex-bolsista da CAPES, Thomaz Pinot Barbosa estuda em profundidade a trajetória humana e originária no continente americano

Thomaz Pinot Barbosa é graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade de Londres Queen Mary, por meio da modalidade graduação sanduíche oferecida pelo Ciência Sem Fronteiras. Mestre e doutor também pela UFMG, Pinot é ganhador do Prêmio CAPES de Tese em Ciências Biológicas com o trabalho Late Holocene Population Dynamics in the Americas – A Paleogenetic story of the American continent. No estudo, desenvolvido em cotutela com a Universidade de Copenhagen, o doutorando explora a história humana no continente americano por meio da história genética deixada em materiais como fósseis e ossos. O acadêmico acessa a trajetória dos povos originários do Brasil e do México.

Sobre o que é a sua pesquisa? Explique o conteúdo da sua tese.
Já viu Jurassic Park? A ideia é parecida: extrair DNA de material antigo, seja de origem arqueológica ou paleontológica, para estudar organismos ou ecossistemas do passado. A diferença é que não trabalhamos com mosquitos fossilizados em âmbar nem com dinossauros, já que o limite temporal do DNA é muito menor. A área em que atuo se chama paleogenética ou DNA antigo e usa dados obtidos de fósseis, ossos, dentes ou outros vestígios para compreender a evolução de espécies e populações ao longo do tempo. O foco da minha pesquisa foi a história das populações humanas no continente americano. A arqueologia é a disciplina que tradicionalmente estuda essas questões, mas há limites no que ela pode responder sozinha. Questões como relações entre diferentes grupos humanos, eventos de mistura ou continuidade genética são abordagens que a genética pode esclarecer de forma inédita.

Imagem: Ganhador Thomaz Pinot Barbosa (Arquivo pessoal)
Imagem: Ganhador Thomaz Pinot Barbosa (Arquivo pessoal)

Na minha tese, abordei alguns diferentes problemas arqueológicos clássicos que ainda não haviam sido analisados por uma perspectiva genética. Nos Estados Unidos, usamos dados paleogenéticos para verificar uma continuidade entre os povos Pueblo atuais e as populações que construíram estruturas monumentais gigantescas na região do cânion do Chaco, no Novo México. Já no Brasil, abordamos a questão da expansão dos povos Jê e Tupi no Sul do país, onde vimos que esses processos aconteceram mais cedo e foram mais difundidos do que imaginávamos com base somente nas evidências arqueológicas.

O que vale destacar de mais relevante de sua pesquisa?
Acho que o ângulo que mais me orgulha é a forma como buscamos integrar a colaboração com povos indígenas em todas as etapas do trabalho. Ao incorporar história e saberes tradicionais na interpretação dos resultados, geramos um conhecimento não só mais completo, mas também mais respeitoso. Essa aproximação permite não só enriquecer a ciência, como também valorizar a memória e a identidade dos povos indígenas, algo que considero essencial para a ciência contemporânea.

De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
Acredito que a paleogenética tem um grande potencial de demonstrar vínculos biológicos entre o passado e o presente. Isso é importante não só porque vários capítulos da história brasileira foram apagados pelo processo de colonização, mas porque pode tornar a ciência aliada dos povos indígenas nas lutas por seus direitos, corroborando suas narrativas e vínculos históricos com territórios ancestrais.  Assim, nossa pesquisa não só avança o conhecimento científico, como pode ajudar na promoção da justiça social e na valorização cultural.

Imagem: Imagem durante a tese (Arquivo pessoal)
Imagem: Imagem durante a tese (Arquivo pessoal)

Qual a importância para você de sua tese ter sido escolhida a melhor na área?
Ao mesmo tempo que é estranho receber um prêmio individual por um trabalho que foi essencialmente coletivo, fico muito feliz por receber um prêmio que tem o próprio nome da CAPES/MEC, instituição inseparável da ciência brasileira. Além disso, esse reconhecimento demonstra que a ciência interdisciplinar e colaborativa que propomos é valorizada pela comunidade científica. A genética, diferente da arqueologia e da linguística, não tem uma tradição de integrar os povos indígenas em suas discussões. Durante minha pesquisa, dediquei imensa energia para isso. O prêmio me dá confiança de que respeitar esses diálogos e abrir espaço para diferentes formas de conhecimento foi, de fato, a escolha correta.

Foi bolsista da CAPES/MEC? Se sim, de que forma a bolsa contribui para sua formação?
Fui bolsista na graduação pelo programa Ciência Sem Fronteiras. A experiência foi fundamental para minha formação, pois representou meu primeiro contato com a pesquisa internacional e me preparou para as experiências no exterior durante o mestrado e doutorado. Além disso, várias disciplinas que cursei em Londres abordavam genômica, uma área que, em 2014/15, quase ninguém no Brasil trabalhava, o que me deu uma bagagem essencial para toda minha pesquisa futura.

Fonte: CGCOM/CAPES