Jornalistas de educação lançam associação para melhorar cobertura

apresentação Juduca

Foto: Reprodução Jeduca

Quase a totalidade (99%) dos jornalistas de educação começam no mercado de trabalho sem ter recebido qualificação para atuar na área. A formação ocorre no dia a dia profissional, predominantemente no ambiente de trabalho.

As informações foram apresentadas nesta quinta-feira (23) pelo jornalista Rodrigo Ratier, durante debate no 11° Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), que marcou o lançamento da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca). Cerca de 250 pessoas estiveram presentes.

Ratier, editor-executivo da revista Nova Escola, levantou os dados para sua tese de doutorado. Defendida em março na Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), o trabalho acadêmico ouviu 92 jornalistas que atuavam no segmento educação na grande imprensa brasileira –mídia impressa e digital– ao longo do ano de 2013.

A pesquisa evidencia que não há abordagem ou trabalho teórico consolidado voltado à cobertura de educação em cursos de graduação e de pós graduação de jornalismo no país. A influência escolar, portanto, é classificada por Ratier como “moderada” na formação do jornalista de educação. A família, com papel “importante”, e o trabalho, “preponderante”, exercem mais influência do que a escola na formação desse profissional, segundo as entrevistas.

No item específico sobre o ensino superior, 73% dizem que a formação universitária não contribuiu para a aquisição de conhecimentos sobre a área. “Na graduação, não há nada específico (para a cobertura de educação). Havia curso de pós graduação, mas hoje não existe mais”, pontua o pesquisador, agora doutor em Educação pela USP.

Para Ratier, é necessário ao jornalista “a construção de um olhar com leituras mais acadêmicas” para qualificar e diferenciar a cobertura na área.

Com um questionário de 248 itens, o trabalho acadêmico fez um mapeamento detalhado que indica, entre outros pontos, que o perfil predominante dos jornalistas de educação é de mulher, jovem e branca. A maioria tem renda entre 5 e 10 salários mínimos, é da classe média econômica e da elite cultural, além de recusar posicionamentos políticos extremados. O trabalho completo pode ser visto aqui.

O Lançamento

jeduca (1)Participaram também do debate de lançamento da Jeduca o jornalista Antonio Gois, presidente da associação, o coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, e a superintendente do movimento Todos Pela Educação, Alejandra Velasco. A mediação coube à jornalista Renata Cafardo, diretora da Jeduca e repórter da TV Globo.

Além da falta de formação específica para o tema, foram abordados assuntos como o espaço e a cobertura destinados à educação na mídia, a maneira como o jornalista de educação trabalha dados e indicadores de avaliação escolar, a recente cobertura na mídia das ocupações de escolas públicas e os aspectos positivos e negativos da ascensão de “players” não-jornalísticos, tais como institutos, fundações e ONGs, na cobertura da área.

“É positivo que os empresários estejam envolvidos com a educação. O que preocupa é o amadorismo pedagógico. É preciso amadurecer mais o debate” afirma Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Para Alejandra Velasco, superintendente do Todos Pela Educação, a educação ainda é um “setor frágil” em termos de presença na opinião pública e no orçamento público. “Temos que pensar a educação como um investimento não menos importante do que as estradas”, diz Velasco, que acredita que a cobertura jornalística passa por um momento de qualificação das pautas que se referem a divulgações de indicadores e rankings educacionais.

Presidente da Jeduca e colunista de educação do Grupo Globo, o jornalista Antonio Gois salientou a importância da experiência do repórter dentro da escola, necessária para uma boa formação jornalística na área. Para Daniel Cara, há um “deficit” nesse ponto. “Falta (à mídia) falar do cotidiano das escolas”, afirma.

Sobre a falta de comunicação da mídia com o chão da escola, Rodrigo Ratier destacou, durante apresentação de sua pesquisa, informação de que ao menos 18 Estados brasileiros mantêm dispositivos legais que limitam, de forma inconstitucional, manifestações ou entrevistas de professores para a imprensa, a chamada “Lei da Mordaça”.

A informação foi levantada pela jornalista Fernanda Campagnucci e citada em sua dissertação de mestrado “Silêncio dos professores? Uma interpretação sociológica sobre a “ausência” da voz docente no jornalismo educacional.”

“Este é um exemplo de um campo em que a Jeduca poderia atuar, explicando o que é a Lei da Mordaça e apoiando os jornalistas que desejam fazer entrevistas com professores e profissionais de educação das escolas”, afirma Paulo Saldaña, um dos diretores da Jeduca.

Conheça a página na internet da Jeduca.

Fonte: Comunicação da Jeduca

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