Pesquisa financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desenvolveu tecnologia para a descontaminação ambiental por herbicidas com a utilização de plantas. A fitorremediação, como a técnica é chamada, consiste em uma alternativa sustentável para diminuir resíduos de agrotóxicos no solo. Essa técnica é utilizada para ambientes em que há grande quantidade de metais pesados. A inovação na pesquisa, desenvolvida pelo professor José Barbosa dos Santos , do Departamento de Agronomia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), bolsista de Produtividade em Pesquisa (PQ) do CNPq, foi o uso da técnica para combater resíduos de herbicidas, produtos aplicados em maior quantidade por hectare e cujas moléculas foram desenvolvidas para matar plantas. De cada 10 quilos de agrotóxicos lançados ao meio ambiente por ano, cerca de metade é formada por herbicidas. Os resíduos dessas substâncias têm forte poder de contaminação das águas.
O professor e sua equipe selecionaram várias espécies de plantas capazes de diminuir quantidades expressivas de herbicidas que chegam aos cursos hídricos. O resultado principal da pesquisa foi o conhecimento de como se dá a fitorremediação ao nível genético da parceria da planta com microrganismos do solo. Além dos resultados gerados pela própria atividade de pesquisa, o tema da descontaminação ambiental com o uso de fitorremediação em sítios com resíduos de herbicidas gerou a publicação de seis artigos, entre eles um publicado na revista Environmental Pollution , que descreve a metagenômica e a degradação completa do herbicida atrazine por espécies de árvores da nossa flora brasileira. O atrazine é conhecido por ser o maior poluidor de águas do mundo. O trabalho é fruto de uma das teses de doutorado orientadas pelo professor, em parceria com coorientadores. A pesquisa gerou a orientação de três teses de doutorado e de três trabalhos de iniciação científica.
O objetivo esperado da pesquisa era o de se selecionar pelo menos uma espécie possível de fitorremediadora no campo agrícola, para diminuir resíduos dos principais herbicidas nos grupos das árvores, das herbáceas e das macrófitas, ou plantas aquáticas. Em primeiro lugar, os pesquisadores pensaram em enriquecer as matas ciliares, que protegem os rios e lagos contra a erosão de suas encostas, com árvores que filtrassem o solo contendo resíduos de herbicidas, antes que esses restos chegassem em rios e lagos por meio do lençol freático. O resultado encontrado foi a descoberta de duas espécies arbóreas com grande capacidade de degradação do herbicida atrazine.
No caso das espécies arbóreas, grupo em que ocorreram mais avanços no estudo, foi possível estudar a rizosfera (região onde o solo e as raízes da planta entram em contato) e fazer um apanhado geral das funções dos microrganismos associados às raízes das plantas. O estudo ajudou na compreensão dos genes que são acionados quando em presença dos resíduos dos herbicidas. O professor e sua equipe descobriram novos microrganismos que atuam em parceria com as raízes na degradação do atrazine. A importância desse resultado se dá pelo fato desses microrganismos nunca terem sido mencionados na literatura mundial como detentores dessa capacidade. Em paralelo a isso, os cientistas mostraram os genes que permitem a associação planta/microrganismo degradar totalmente a molécula de atrazine.
Para as macrófitas, ou plantas aquáticas, em segundo lugar, a ideia dos pesquisadores foi a de confeccionar filtros para a limpeza de alguns cursos hídricos que já tivessem resíduos de herbicidas. Além de retirar os restos dessas substâncias da água, o método ainda contribuiria para melhorar a qualidade da água capturada para irrigação. Resíduos de herbicidas em água afetam de forma direta o fitoplâncton, comprometendo a disponibilidade de oxigênio e a produção de toda a vida aquática. A seleção de duas macrófitas com potencial para agregar resíduos de herbicidas na água ao mesmo tempo mostrou que esse tipo de fitorremediação possui a capacidade de degradar ao menos parcialmente um tipo de herbicida.
No caso das herbáceas, em terceiro lugar, o meio encontrado pelos pesquisadores foi o de acelerar a degradação dos resíduos na própria área de produção. Na cultura da soja, por exemplo, em que se usa herbicidas para controlar a proliferação de plantas daninhas, ao final do ciclo restariam resíduos danosos para algumas espécies cultivadas em sucessão. No caso, o recomendado pelos pesquisadores, a utilização de fitorremediadoras de ciclo rápido contribuiria para a limpeza da área, deixando-a apta a receber maior número de possibilidades de cultivos. O modelo piloto de fitorremediação de resíduos do herbicida diclosulam, um dos mais utilizados na cultura da soja e cujos resíduos permanecem em campo por grande período, além de permitir a liberação mais rápida da área para novos plantios, apresentou potencial para uso na produção de bioetanol.
Sem a fitorremediação, não seria possível a limpeza de áreas de herbáceas com resíduos de herbicidas para novos plantios. O professor José Barbosa salienta a importância de se dar continuidade às pesquisas nesse campo, visto que a retirada de herbicidas do solo para outros cultivos ainda permanece um problema para muitas culturas, como as do alho, da cebola, da batata e da cenoura. “Em um futuro não distante será possível um programa de fitorremediação que fará parte da rotina dos agricultores, ou seja, já saberiam quais combinações podem ser feitas ao longo do ano de plantio, caso usem herbicidas de efeito residual”, afirma o professor. Segundo ele, a ideia não é a de incentivar o uso de herbicidas, mas evitar que os resíduos sejam danosos às culturas seguintes e ao meio ambiente.
Foto: CNPq
Fonte: CNPq