Pesquisadora aponta desigualdades sociais na saúde

Catarina Azeredo, atualmente professora na UFU, defende o aumento da presença das mulheres na ciência para ampliar diversidade

Graduada e com mestrado em Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa, Catarina Machado Azeredo é doutora em Epidemiologia pelo Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Professora do curso de Nutrição da Faculdade de Medicina de Uberlândia (UFU), ela foi bolsista da CAPES no doutorado-sanduíche na London School of Hygiene and Tropical Medicine, na Inglaterra, e professora-visitante júnior em Harvard, nos Estados Unidos. Sua pesquisa investiga as desigualdades sociais na saúde, principalmente em relação à alimentação, e também traz para o debate a importância das mulheres na ciência.

Ao longo da sua carreira acadêmica, você tem defendido a presença das mulheres na ciência. Qual é a importância do olhar feminino na pesquisa?
As mulheres, de todas as cores e classes sociais, são fundamentais para a ciência, porque o olhar da pesquisadora sobre o objeto de estudo é influenciado por todas as experiências e vivências, não existe ciência neutra, e ter o olhar feminino amplia a diversidade de perspectivas e olhares sobre qualquer temática, ampliando a própria compreensão científica dos diferentes temas. Além disso, ter mulheres fazendo ciência, significa ter representatividade feminina, o que inspira e abre portas para outras meninas e mulheres saberem que é uma carreira possível, não só para os homens. Eu tive a sorte de ter como coorientadora de doutorado uma grande pesquisadora, Dra Renata Bertazzi Levy, que é muito generosa no compartilhamento de conhecimentos, uma mentora exemplar para outras mulheres e uma inspiração, por estar dentre os pesquisadores mais influentes do mundo. Hoje, como orientadora de dois programas de pós-graduação, tento fazer o mesmo por outras mulheres.

Quais têm sido as suas linhas de pesquisa?
A minha linha de pesquisa principal é em desigualdades em saúde, mas também atuo em pesquisas sobre o ambiente alimentar físico e digital, sobre associações da violência com o consumo alimentar e estado nutricional, com foco na população adolescente e adulta. Todas essas pesquisas estão enquadradas na área de saúde coletiva e epidemiologia, e possuem como foco os problemas de saúde numa perspectiva populacional. O Brasil ainda precisa avançar em políticas para proteger os grupos mais vulneráveis para os principais fatores de risco para as doenças estudadas. Para a obesidade, por exemplo, temos necessidade de melhorar a regulação da rotulagem nutricional, implementar políticas de restrição de marketing de alimentos não saudáveis, de proteção do ambiente alimentar escolar e do trabalho e de taxação de alimentos não saudáveis, além de necessitarmos de políticas amplas de promoção de uso de transportes ativos e disponibilidade de espaços públicos para a prática de atividade física, em especial nos bairros mais periféricos. Essas políticas certamente ampliariam o acesso à alimentação saudável e atividade física nos grupos com menor acesso, reduzindo consequentemente diversas Doenças Crônicas não Transmissíveis, que possuem a obesidade como causa comum.

 

Imagem: Bolsistas e demais pesquisadoras (Arquivo pessoal)

Ao ingressar na pós-graduação, qual foi o seu maior objetivo?
Meu grande objetivo era ter conhecimento sobre o método científico, desenvolver competências em pesquisa para ser capaz de responder perguntas e trazer respostas que atendam às demandas da sociedade. Esse é para mim um objetivo contínuo e tenho tentado responder a perguntas com interesse social desde o início de minha carreira, e sempre que penso em iniciar um novo projeto, me pergunto a quem ele servirá. No mestrado, comparei duas formas de suplementação preventiva com sulfato ferroso para crianças menores de um ano e nossos resultados contribuíram, junto com outras evidências para a reformulação de uma política pública nacional. Atualmente pesquiso desigualdades sociais em saúde, em especial, na alimentação e em outros comportamentos relacionados à saúde. Esses resultados evidenciam a necessidade de políticas públicas que ampliem o acesso aos determinantes sociais da saúde para os grupos vulneráveis, como forma de reduzir o adoecimento populacional.

De que forma a bolsa da CAPES contribui para sua formação?
Um momento muito significativo do meu doutorado foi quando tive a oportunidade de fazer um período de doutorado-sanduíche em Londres, a partir de uma parceria que meu orientador possuía. Durante a minha formação, eu não tive a oportunidade de estudar inglês, tampouco havia saído do Brasil, então, quando surgiu essa possibilidade, precisei investir muito no aprendizado de uma língua estrangeira. Consegui a bolsa do Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE) pela CAPES e passei 7 meses na Inglaterra em uma das melhores instituições da área de Epidemiologia do mundo, a London School of Higyene and Tropical Medicine e consegui uma formação diferenciada, além de ampliar parcerias internacionais e melhorar minha fluência em inglês. Essa oportunidade foi muito marcante em minha formação. Após isso, concorri a um edital da CAPES para professor-visitante júnior em Harvard e tive meu projeto aprovado entre os 10 projetos selecionados no Brasil todo. Foi muito importante ter mais essa oportunidade de passar um ano em uma instituição reconhecida mundialmente para minha consolidação em pesquisa e ampliação de parcerias internacionais. Então, apesar do desafio do financiamento insuficiente para pesquisas no Brasil, as agências de fomento tiveram um papel muito importante para minha formação científica.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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Fonte: CAPES